Morro do Castelo

Morro do Castelo 1886 - Óleo de Victor Meireles
Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro Joaquim Manuel de Maceo p. 128

Uma colina que foi o berço do Rio de Janeiro e que, por quase 200 anos, deteve o seu centro de poder. Talvez essa seja a descrição mais sucinta da importância do morro do Castelo, a elevação cercada de várzeas, à beira da baía, para onde foram transferidos os primeiros habitantes portugueses do que é hoje o Rio de Janeiro. Após derrotar os franceses, em 1567, Mem de Sá decidiu refundar a cidade, mudando o pequeno núcleo que habitava o morro Cara de Cão, na Urca, para o lugar que, antes de se consolidar como morro do Castelo, era conhecido também como morro do Descanso, morro de São Januário, Alto da Sé ou Alto de São Sebastião.

Foto: Morro do Castelo – Biblioteca Nacional

De lá, no alto da colina que se estendia pelo que é hoje parte do Centro do Rio, era possível ficar de olho na Ilha de Villegagnon, onde os franceses poderiam se organizar para novo ataque. E então, o morro do Castelo foi ganhando uma fortaleza, prédios que serviriam à administração da cidade, igrejas, armazéns e moradias. A trama urbana que deu origem à capital fluminense foi se desdobrando a partir desse núcleo.   

Dentre os poderosos que ocuparam o morro do Castelo, havia os jesuítas, que se instalaram com um colégio e uma igreja, até serem expulsos da colônia em 1759, pela famosa perseguição do marquês de Pombal. Esse episódio deu origem a uma das mais longevas e divertidas lendas a frequentar o imaginário carioca: a de que, na fuga, os religiosos teriam deixado um tesouro escondido nas galerias subterrâneas. Lima Barreto até descreveu, em textos folhetinescos publicados no jornal Correio da Manhã, o frisson após a descoberta de uma dessas galerias, durante a primeira parte do desmonte do morro, em 1905.

Foto: Alessandro Vieira – Morro do Castelo – Agência Tyba

Essa primeira etapa do Bota-Abaixo foi feita para dar passagem à avenida Central, atual Rio Branco. Mas o morro desapareceu mesmo em 1920, para supostamente ceder espaço à grande exposição internacional comemorativa dos cem anos da independência do Brasil, em 1922. Não sem muita controvérsia, claro. Os defensores do desmonte argumentavam que botar abaixo o morro do Castelo também era questão de saúde pública, pois deixaria o ar circular melhor pela cidade. Os defensores de sua permanência apontavam a enorme importância histórica do lugar. Fato é que o morro do Castelo também incomodava porque, com o tempo, deixou de ser nobre. Em vez disso, era morada de gente humilde, trabalhadores e descendentes de escravizados.

A terra do desmonte do morro serviu para aterrar parte da região central da cidade, fazendo desaparecer a praia de Santa Luzia e dando origem a um pedaço do que mais tarde se tornou o aterro do Flamengo. Se olharmos bem, ainda há vestígios do morro do Castelo no Rio de hoje. A ladeira da Misericórdia, com seus tímidos 30 metros, é a única rua que sobrou do morro e fica ao final da rua de mesmo nome, na região do Centro que, não à toa, se chama Castelo. E, vez ou outra, alguém ainda se indaga se, no subsolo do centro do Rio, não haveria algum tesouro escondido.

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