Comício da Candelária – Diretas Já
Em 1983, a pressão popular pelo retorno da democracia após quase vinte anos de Ditadura Militar ganhou novo impulso: a união de partidos políticos, entidades sindicais, movimentos organizados e representantes de amplos setores sociais em apoio à emenda Dante de Oliveira. A proposta era a realização de eleições diretas para presidente no início de 1985. Esse foi o ponto de partida para uma série de debates e atos políticos que, nos meses seguintes, tomaram conta do país.
De janeiro de 1984 até o dia da votação da emenda, em 25 de abril, aproximadamente cinco milhões de pessoas saíram em protesto nas grandes cidades. Essa foi a maior mobilização popular da história do Brasil desde a campanha pela abolição da escravatura, em 1888.
No Rio de Janeiro, o slogan “Eu quero votar para presidente” estampava cartazes, faixas, bandeiras, bottons e camisetas amarelas. Em 10 de abril de 1984, a movimentação começou nas primeiras horas da manhã com endereço certo: a avenida Presidente Vargas, no Centro. Por volta das 14h, roletas de ônibus e balsas foram liberadas para os manifestantes. Pouco a pouco, um milhão de pessoas se reuniu nas proximidades da Igreja da Candelária, onde um palanque foi erguido.
A emoção deu o tom da maioria dos discursos, sempre acompanhados por aplausos, gritos de guerra e palavras de ordem a favor da democracia. O jurista Sobral Pinto e o governador Leonel Brizola foram alguns dos mais ovacionados. Ao final do evento, quando o locutor Osmar Santos anunciou a execução do Hino Nacional, a chuva que ameaçava cair desde cedo desabou. E os cariocas voltaram para casa com a alma lavada. Duas semanas depois, a emenda foi derrotada no Congresso Nacional. A festa definitiva seria adiada para 15 de janeiro do ano seguinte, data da eleição indireta de Tancredo Neves, primeiro presidente civil após o fim da Ditadura.
Esse texto foi elaborado pelo pesquisador Bruno Viveiros Martins do Projeto República (UFMG).
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