Futebol de Areia

A bola rola nas areias da Praia de Copacabana desde a década de 1930. Naquele tempo, o futebol de areia (também chamado de futebol de praia ou beach soccer) mantinha toda a pompa do futebol profissional, com juiz e uniforme, mas era jogado com os pés descalços. Além de craques, os jogadores tinham de ser bons nadadores, a fim de resgatar a bola que caía no mar em dias de ressaca.  

Os times eram formados por amigos que se organizavam de acordo com a geografia dos bairros cariocas próximos às praias. Os primeiros clubes foram o Pracinha, o Ouro Preto e o Juventus e as competições eram disputadas na orla da Zona Sul.  A partir da década de 1950, o esporte ganhou impulso com a unificação dos torneios em um campeonato chamado Interbairros. Aumentou o número de praticantes e surgiram novos clubes, como o Copaleme, o Dínamo e o Guaíba.  

Futebol de Praia – Columbia x Copaleme – 26/06/1971. Foto de Gilmar. Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional

Algumas dessas equipes tinham suas superstições e adotavam manias um pouco exóticas. Conta-se que os jogadores do Dínamo, entre eles o humorista Tião Macalé, nunca lavavam seus uniformes, tendo surgido aí o bordão “ih, nojento!”, que foi sucesso no famoso programa de televisão “Os Trapalhões”, nas décadas de 1980 e 1990. 

Nos anos 1960, o futebol de areia já tinha tomado conta da cidade e os jogos eram transmitidos pela televisão. Todos os finais de semana, centenas de espectadores lotavam o calçadão da orla carioca, do Leme ao Leblon, para assistir aos mesmos craques que, aos sábados, jogavam na areia e, aos domingos, no gramado do Maracanã. Na década de 1970, com o aterro das praias da Zona Sul, surgiram campos maiores e aumentou o número de equipes que disputavam o Campeonato Carioca de Futebol de Praia. Entre os novos clubes estavam Racing, Paula Freitas, Força e Saúde, Bairro Peixoto e Prado Junior. 

Futebol de Praia – Gravura de Alcides Oliveira

O esporte continuou ganhando novos adeptos e revelou um talentoso e excêntrico juiz que passou das areias para os campos. O juiz Margarida apitava jogos de futebol de areia desde 1968 e acabou ganhando notoriedade, mas no primeiro jogo profissional que apitou no Estádio da Gávea, em 1988,  sofreu insultos homofóbicos devido à “fisicalidade efeminada”. Naquele mesmo ano, o juiz se tornou o primeiro árbitro da primeira divisão brasileira a se assumir gay, afirmando: “Eu reconheci minha sexualidade para um país preconceituoso, o que é uma coisa difícil de fazer”. Sua competência era reconhecida e ele e foi muito respeitado pela imprensa e por árbitros e jogadores. 

Das equipes de futebol de praia saíram muitos talentos para o futebol de campo, como o famoso jogador do Flamengo e da seleção brasileira Júnior, revelado pelo Juventus. Depois de sua aposentadoria dos campos, ele voltou às areias e foi um dos responsáveis por alavancar o futebol de praia à condição de esporte reconhecido e sucesso de público. Com outros craques do campo, como Zico e Cláudio Adão, Júnior participou das primeiras grandes conquistas da seleção brasileira de beach soccer

Claudio Adão, Júnior Negão, Zico, Júnior e Magal na inauguração da Arena Maestro Júnior – 2012. Facebook da Liga Brasileira de Futebol de Areia

O futebol de areia começou a se profissionalizar na década de 1990, quando algumas regras do original 11×11 foram alteradas, como a redução no número de jogadores para quatro na linha (além do goleiro) e a delimitação de espaços e áreas dentro do campo. Embora a bola tenha as mesmas dimensões que a do futebol tradicional, ela é bem mais leve e a duração do jogo também é diferente, com três tempos de apenas 12 minutos cada e intervalos de três minutos. 

Em 1992, os Estados Unidos sediaram a primeira competição profissional do esporte, em Miami Beach. Participaram as seleções dos Estados Unidos, da Itália, da Argentina e do Brasil, a campeã, é claro. Nos anos seguintes, a seleção brasileira conquistou o primeiro lugar nos campeonatos internacionais realizados na Praia de Copacabana. O futebol de areia despontou em todo o mundo e ganhou novas competições, como o Pro Beach Soccer Tour (1996) e a Liga Europeia (1998). 

Dos dez campeonatos mundiais de futebol de areia realizados entre 1995 e 2004, oito aconteceram no Rio de Janeiro. A Federação Internacional de Futebol (FIFA) o incluiu oficialmente na federação em 2004 e, em maio do ano seguinte, organizou a primeira Copa do Mundo FIFA de Futebol de Areia, na Praia de Copacabana. Desta vez, quem levou a taça foi a seleção da França. 

Nas Copas de 2006 e de 2007, também no Rio, a seleção brasileira conquistou o bicampeonato. O Brasil ganhou mais dois títulos mundiais, celebrando o tetracampeonato em 2009, e lidera o ranking de campeões com 14 títulos em torneios internacionais. Portugal vem em seguida, com três títulos mundiais. 

Equipe Bicampeã da Copa do Mundo de 2007 no Rio de Janeiro. Site Daniel Beach Soccer

Em 2019, pela primeira vez na história, uma equipe feminina do esporte representou o Brasil nos Jogos Mundiais de Praia e levou, no Catar, a medalha de bronze. No mesmo ano, a seleção carioca feminina conquistou o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais. O Rio de Janeiro, berço do futebol de areia, continua se destacando no cenário mundial, com times como Flamengo, Botafogo, América e Vasco da Gama. A equipe masculina do clube de São Cristóvão é tricampeã da taça Libertadores da América e vencedora do primeiro campeonato mundial de beach soccer para surdos, realizado em 2019 no Rio. 

Este texto foi elaborado com a colaboração de Rafael Rec, vice-presidente da Federação de Beach Soccer do Estado do Rio de Janeiro. 

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