Clubes musicais e teatrais das Gávea
Durante um longo período do século XIX, a Gávea foi um arrabalde eminentemente rural, com casas de famílias abastadas que podiam morar longe da cidade. O bairro se manteve dessa maneira até o final do século. Porém, a entrada de capital para empreendimentos industriais no Rio de Janeiro mudou o rumo de sua história.
A chegada das fábricas Carioca (1884), Corcovado (1889) e São Félix (1891) – todas localizadas entre a Gávea e o Jardim Botânico – atraiu, também, novos moradores para a região, que logo seriam absorvidos como operários.
Os complexos de convivência criados ao redor das fábricas têxteis da cidade, cumpriam um objetivo: construir um espaço de “harmonia” em que o patrão seria responsável pela tutela do empregado. Dessa forma, as escolas, creches, capelas e vilas operárias tinham como objetivo vigiar os trabalhadores e interferir em seu cotidiano. A atenção dos patrões à vida de seus operários também recaiu sobre os espaços de lazer. Assim, as primeiras associações recreativas contaram com o apoio patronal.
Em 1895, os operários da Fábrica de Tecidos Carioca fundaram o Clube Musical Recreativo Carioca – uma banda de música composta pelos trabalhadores e com um sistema de organização administrativa com um presidente, dois secretários e um procurador.
Muitas figuras importantes do Clube Musical Recreativo Carioca tinham vínculos com o Centro das Classes Operárias (CCO). Inclusive os jornais vinculados à propaganda socialista, como o Gazeta Operária e A Nação, elogiaram os diretores da fábrica Carioca por doarem uma certa quantia ao clube musical. Esses periódicos viram com simpatia a prática patronal de doação para o clube, por representar melhores condições de vida para os operários e por promover meios para subsidiar algumas atividades que despertavam seu interesse.
O Clube Musical Recreativo Carioca frequentemente desfilava tocando seus instrumentos em eventos públicos, no bairro da Gávea e na região central. E era a partir da aparição nestes eventos públicos, que os clubes acabavam representando os operários e a própria companhia, cumprindo a função de, também, mostrar ao público a suposta bondade e generosidade dos diretores da fábrica, que incentivavam tais práticas.
Porém, se por um lado a aparição nesses eventos públicos buscava demonstrar uma imagem cordial e fraterna, por outro, reafirmava as hierarquias sociais, as quais os diretores faziam questão de afirmar. Entretanto, essa dinâmica paternalista da relação entre patrões e funcionários, também beneficiava as ações dos próprios operários, que aproveitavam os espaços de sociabilidade para fazer valer suas reivindicações.
As associações recreativas não se restringiam apenas aos bailes e festas. Uma importante particularidade na vida associativa dos trabalhadores da região da Gávea/Jardim Botânico é a prática teatral: um exemplo é a agremiação da Sociedade Recreativa do Pessoal do Corcovado, que mantinha em funcionamento o Grêmio Dramático José da Cruz, no qual os próprios trabalhadores atuavam.