Palácio Tiradentes

Inaugurado como a sede da Câmara dos Deputados em 6 de maio de 1926 e para a celebração do Centenário do Poder Legislativo, o Palácio Tiradentes foi um dos centros da política brasileira até a transferência da capital para Brasília. Em seu plenário ocorreu a posse de presidentes da República; duas Constituições foram redigidas, a de 1934 e 1946; seus corredores já foram fechados durante o Estado Novo (1937-1945) para sediar o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP); lá funcionou a Assembleia Legislativa da Guanabara entre 1960 e 1963; com a extinção da Guanabara, passou a abrigar a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) em 1975, tendo sediado o parlamento fluminense e a posse dos governadores estaduais até 2021. Hoje, o palácio é a sede histórica do Legislativo estadual, tendo sido tombado pelo IPHAN em 1993.

Inauguração do Palácio Tiradentes, em 6 de maio de 1926. Augusto Malta. Acervo Instituto Moreira Salles.

Um dos marcos da arquitetura do Brasil, o Palácio Tiradentes tem longas raízes na cultura política carioca. Isso é evidente na escolha do local de construção: anterior ao Palácio, existia o prédio da Casa de Câmara e Cadeia, sede do Senado da Câmara do Rio e da cadeia pública entre 1639 e 1808, sendo sucedida pela Assembleia Geral Legislativa do Império a partir de 1826 e a Câmara dos Deputados no início da República. Apelidado de Cadeia Velha pouco antes de ser demolido, o casarão foi palco da leitura da sentença de Tiradentes: sua prisão por três longos anos na Ilha das Cobras se deu por conta do seu envolvimento no episódio conhecido como Conjuração Mineira. Único a ser condenado pela Coroa Portuguesa, o alferes ficou preso na antiga Cadeia por 4 dias antes de seu enforcamento aqui no Rio de Janeiro, em 21 de abril de 1792.

Cadeia Velha, que deu lugar ao atual Palácio Tiradentes. Augusto Malta, 1919. Instituto Moreira Salles.

Leitura da sentença dos inconfidentes. Eduardo de Sá, 1921. Museu Histórico Nacional/Ibram/MinC.

Irmão mais novo do Palácio Pedro Ernesto —inaugurado em 1923 na Cinelândia —, tem os mesmos padrinhos: construção do edifício durou quatro anos (1922-1926), tendo sido de autoria de Archimedes Memoria em parceria com Francisque Cuchet, dois arquitetos que marcaram a transformação do Rio na década de 1920, com construções de grande importância como o Jockey Clube na Gávea. O Palácio se destacou como um edifício moderno à época por ser uma das primeiras construções em concreto armado da América Latina. O uso de novas técnicas de construção tinha uma função: transformar o palácio em uma “nação em miniatura”, com materiais nacionais provenientes de todos os Estados do Brasil. O interior do plenário, por exemplo, foi executado em madeira imbuia doada pelo Estado de São Paulo. 

Projeto para o Palácio Tiradentes. O Paiz, ano XXXIX, nº 632, 1922. Fundação Biblioteca Nacional

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Demolição do Morro do Castelo; ao fundo, o Palácio Tiradentes em construção. Sebastião Lacerda, c. 1922-1923. Acervo Instituto Moreira Salles

A edificação se destaca na paisagem como uma arquitetura narrativa: o pórtico de colunas clássicas, a cúpula que forma um gigantesco vitral interno e os grupos de escultura que decoram a fachada com a escadaria contam a história da República no Brasil e tornam o palácio um monumento à política nacional.

O “abre alas” é a estátua de Tiradentes, executada por Francisco de Andrade. Inspirado no Monumento a Balzac, de Rodin, o escultor utilizou as técnicas modernas para transformar o bronze no Cristo cívico brasileiro, onde Tiradentes surge como um mártir com longos cabelos e barbas. O alferes é ladeado por duas Vitórias aladas que seguram coroas de louros, simbolizando o triunfo do ideal da Independência do Brasil.

Nas extremidades se destacam os conjuntos Independência, com Pedro I e José Bonifácio; e Proclamação da República, com Deodoro da Fonseca e Benjamin Constant. Todos estão vestidos como imperadores romanos, reforçando a autoridade do prédio. O autor foi Modestino Kanto, artista negro e importante escultor e carnavalesco do Rio de Janeiro do início do século XX, que se inspirou em carros alegóricos para executar a decoração do Palácio.

Modestino Kanto, esculpt, 1912 Fonte: Album de Artistas, 1917. Fundação Biblioteca Nacional

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