O Instituto de Arte da UDF

Apesar de ser a capital federal e deter as instituições de peso histórico que representavam a nacionalidade nas artes – o Museu Histórico Nacional e a Escola Nacional de Belas Artes –, o Rio de Janeiro passou boa parte das décadas de 1920 e 1930 sendo vista como um lugar cujas tradições do academicismo faziam com que as práticas vanguardistas do grupo modernista de São Paulo ainda deixassem a cidade paulista como epicentro das práticas artísticas que transformavam o país. A partir da criação do Instituto de Artes, localizado na Universidade do Distrito Federal, esse quadro mudaria de figura. 

Fonte: Site Cosmos e contexto

A UDF, como ficou conhecida, foi uma conquista do prefeito Pedro Ernesto, ativo colaborador na ascensão de Getúlio Vargas ao poder em 1930 e nas resistências às tentativas de tirá-lo do poder nos primeiros cinco anos de seu mandato. A ideia da instituição foi do educador Anísio Teixeira, que trabalhava no governo de Ernesto cuidando da Diretoria Geral de Instrução do Rio de Janeiro. Sofrendo grande resistência da ala católica do governo e do poderoso Ministro da Educação Gustavo Capanema, a iniciativa de Teixeira sofreu seguidos ataques durante seus breves três anos de funcionamento. 

Apesar disso, um de seus institutos era dedicado às artes visuais e teve imenso êxito no seu tempo, colocando o Rio de Janeiro no centro da cena artística nacional e dando voz a profissionais que já se encontravam distantes dos moldes da Escola Nacional de Belas Artes. O Instituto tinha três cursos de nível superior: urbanismo, arquitetura e paisagismo; pintura mural; e escultura monumental. O seu primeiro diretor foi Celso Kelly, ativista desde a década de 1920 na profissionalização do meio artístico carioca, responsável em 1929 pela primeira individual de Portinari no Palace Hotel. O pintor, aliás, era um dos professores de pintura mural e cavalete, além de outros profissionais como Georgina Albuquerque (artes decorativas), Celso Antônio de Menezes (escultura monumental e de salão) Guignard (desenho) ou Lúcio Costa e Carlos Leão (arquitetura).

“Maternidade”, 1943. Escultura de Celso Antônio, professor do Instituto de Artes da UDF. Foto: site Celso Antônio

Com impacto imediato entre as novas gerações que podiam frequentar o Instituto, vemos a frequência – como alunos ou ouvintes das aulas e seminários – de antigos e futuros artistas brilhantes como Roberto Burle Marx, Santa Rosa, Lota Macedo Soares, Edith Behring, Murilo Mendes, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e muitos outros anônimos. Em 1938, a cadeira de História da Arte seria ministrada por Mário de Andrade. Essa quantidade de nomes importantes para a arte brasileira, além do compromisso de “promover, estimular e auxiliar iniciativas que visem ao beneficiamento das artes, o aperfeiçoamento técnico e a integração do sentimento brasileiro nas criações nacionais” (frase retirada do estatuto da UDF), fez do Instituto de Artes durante seus anos de existência o epicentro da reflexão e da criação artística de ponta daquele tempo. 

E é na UDF que a figura de Portinari, já conhecida nacionalmente, com grandes exposições no Rio de Janeiro, prêmios e viagem a Paris por dois anos, consolida sua fama de mestre de toda uma geração. No mesmo ano em que inicia sua atividade como professor, o pintor recebe uma menção honrosa do Carnegie Institute de Pittsburgh com a tela Café, e iniciava seus trabalhos público de painéis em grande escala realizando quatro deles para o Monumento Rodoviário, na rodovia Washington Rodrigues.  O grupo de alunos que estuda com Portinari na UDF passam paulatinamente a trabalhar com ele em outras iniciativas públicas, sendo a principal delas os doze murais em afresco que realiza para o saguão do Ministério da Educação, prédio fundamental da arquitetura moderna brasileira. 

Candido Portinari, “Café”, 1935. Site Olhos de ver

Esses murais e painéis eram, de alguma forma, uma saída de Portinari para seguir suas aulas após as crises políticas da UDF. Acusada pela onda totalitária que percorria os meios intelectuais do país de “antro de comunistas”, a instituição, seus professores, seu criador e a até mesmo o prefeito sofreram severas perseguições, fazendo com que, em 1936, o plano inicial para a universidade fosse abandonado em prol de uma direção conservadora. Os ateliês do curso de Portinari foram transferidos para o Colégio Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado. Uma das formas de escapar dessas novas condições restritas e precárias de trabalho foi, justamente, levar seus alunos para executarem com ele os murais do MEC. Curiosamente, apesar desse trabalho profícuo entre “os comunistas” da UDF, Portinari se tornaria na década seguinte uma espécie de “artista oficial” do Estado Novo, fazendo do Rio de Janeiro a cidade matriz de uma arte nacional e popular. 

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