Artistas imigrantes, exilados, o Rio como cidade internacional

Como capital e cidade portuária, o Rio de Janeiro sempre teve dentre seus moradores um contingente considerável de imigrantes vindos de outras partes do mundo. Nada se compara, porém, ao período em que a Europa mergulhou em conflitos que culminaram com a longa agonia da Segunda Guerra Mundial. A partir do início da década de 1930, tal contingente cresce consideravelmente, fazendo com que uma leva de artistas de diferentes nacionalidades aportem na cidade – alguns, de forma passageira, outros para nunca mais voltarem aos seus países de origem. 

Se pudermos definir um marco na cidade para esse momento, podemos começar no ano de 1932, quando o pintor polonês Bruno Lechovski, chegando ao Brasil em 1926, passa a atuar como integrante do Núcleo Bernardelli e a organizar a Casa Internacional do Artista, localizada no Edifício Odeon, da Cinelândia. No Núcleo, por ser mais velho que os jovens entusiastas do coletivo, se tornou professor marcante de nomes fundamentais da arte brasileira, como Milton Dacosta e José Pancetti. 

Além deles, dois jovens japoneses que migram para São Paulo, buscam nas aulas de Lechovski e do Núcleo Bernardelli a possibilidade de ampliar sua arte. Os japoneses Yoshia Takaoka e Yuji Tamaki chegam ao Rio em 1934 e passam a fazer parte das atividades dos “nucleanos”. Lechovski foi um artista de destaque na geração da década de 1930, criando exposições marcantes – como a individual que realiza no Palace Hotel em 1932, ou sua ideia revolucionária de “exposição portátil”, batizada por ele de Cinetom. Com a invasão da Polônia pelos alemães em 1939, Lechovski passa a usar sua casa na Ladeira da Glória como abrigo para diversos refugiados europeus. Infelizmente, falece em 1941 em decorrência de problemas cardíacos. 

Bruno Lechovski, “Rio de Janeiro, capital da beleza” (1939) – Site Polonidade no Brasil

Outro nome fundamental para a presença internacional na arte carioca é o de Theodor Heuberger. O alemão foi criador, em 1931, da Sociedade Pro-Arte de Arte, Ciências e Letras, uma instituição longeva, cujas ações iniciais visavam a difusão das artes alemães no Brasil. Já em 1928 ele realiza na Escola Nacional de Belas Artes a primeira exposição de arte alemã no Brasil, com 149 pinturas e esculturas de 92 artistas. Em 1930, traz a Exposição Alemã de Livros e Artes Gráficas, apresentada no mesmo ano em Leipzig – e cujas obras causam impacto em artistas e gravuristas brasileiros como Lívio Abramo. No ano seguinte, por ter sua formação principal feita na Alemanha, Guignard é convidado para realizar na Pro-Arte a sua primeira exposição individual, criando laços com a instituição e participando de coletivas de artistas alemães, organizadas nos anos seguintes. Em 1936, Heuberger funda na Rua Buenos Aires, a Casa e Jardim, estabelecimento que fazia vezes de galeria. Com o crescimento da migração de refugiados da guerra, o papel da Pro-Arte cresce cada vez mais, porém adota uma ênfase maior na música erudita ao longo das décadas seguintes. 

Nesse período, portanto, o fluxo de artistas estrangeiros deu aos artistas residentes no Rio de Janeiro a possibilidade de trocas e intercâmbios que, na década anterior, só seria possível com as famosas viagens dos prêmios de Salões. Nomes ligados às vanguardas europeias circulam no meio artístico de então – como o pintor, desenhista e artista gráfico japonês Tsughharu Foujita, cuja presença por breves quatro meses em 1932, produz convivências mais detidas com Portinari (que criou um diálogo com sua obra) e Dante Milano (que o abrigou temporariamente na residência que tinham na Lapa) e Ismael Nery, que o retratou em tela. Também faz uma concorrida exposição no Palace Hotel, vendendo todos os seus trabalhos. 

Ismael Nery, “Retrato de Foujita”, 1932. Wikimedia Commons

Entre 1930 e 1940, a quantidade de nomes internacionais que chegam ao Rio de Janeiro – entre pintores, escultores e gravuristas – é espantosa. Além dos já citados, temos o belga George Wanbach, o italiano Enrico Bianco, a norte-americana Polly McDowell, o japonês Tadashi Kaminagai, o checo Milan Dusek, o romeno Emeric Marcier e o casal formado pela portuguesa Maria Helena Vieira e o húngaro Arpad Szénes. 

George Wanbach, “paisagem com Igreja de São Conrado” (s/d) – Enciclopédia Itaú Cultural

A presença do casal Vieira da Silva e Szénes no Brasil – instalados incialmente nem um hotel em Copacabana, depois em uma pensão na rua Marques de Abrantes, até pousarem definitivamente no Hotel Internacional, no Rio, durou sete anos e foi impactante para o meio local e nacional. No Ateliê Silvestre, criado no hotel em Santa Teresa, Szénes promove diversos cursos e aulas com outros artistas exilados, como o austríaco Axi Leschocheck e o alemão Henrique Boese. 

Arpad Szénes e Vieira da Silva, fotografia de Carlos Moscovicks, década de 1940. Site Vira legenda

Além de participarem de diversas exposições e trabalharem com arte gráfica em jornais e revistas da cidade, sua vivência no cenário artístico europeu na década de 20 e sua intensa movimentação política perante as situações da guerra europeia (Szénes era judeu e Vieira da Silva tornara-se apátrida pelo casamento com o húngaro) foram fundamentais para a produção de um diálogo de arte e amizade com artistas como Carlos Scliar, Djanira e Almir Mavigner, além de poetas e escritores como Lúcio Cardoso, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meirelles. Trazendo sua forte veia abstracionista, a pintora apresenta um caminho que era até então praticamente inédito no país. 

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