Vias expressas e a desigualdade escondida

Além das águas da baía, dos rios e canais que sofrem com a poluição da cidade e com a ausência de tratamento de esgoto adequado em grande parte da região metropolitana, uma fonte de poluentes que impacta diretamente a saúde dos moradores da Maré são as três principais vias expressas que margeiam ou passam pelo território. Além da avenida Brasil, duas vias integram as linhas policrômicas propostas no Plano Doxiadis: as linhas Vermelha e Amarela. Essas vias acabam por cercar e impor limites à expansão horizontal de suas favelas. 

A avenida Brasil foi inaugurada em etapas, a partir da década de 1940. Ligando o centro à zona oeste e o Rio às principais rodovias federais, a Brasil delimita a extensão de um lado da Maré e, em 2014, cerca de 200 mil veículos passavam por ali diariamente, de acordo com o estudo Volume diário de veículos das principais vias do município do Rio de Janeiro, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro/CET-Rio.

Linha Vermelha, em data próxima à sua inauguração, em 1992. Retirado de Rodovias.org

Em 1992 foi inaugurada a Linha Vermelha, que junto a outras vias liga centro, Tijuca e zona sul às ilhas do Fundão, do Governador e à Baixada Fluminense. Em 2014, passavam por ela mais de 140 mil veículos diariamente, e a Linha Vermelha delimita outra divisa da Maré, deixando grande parte do território “espremido” entre as duas vias expressas. Vanda Pereira, moradora e ativista comunitária da Nova Holanda, lembrou da resistência dos moradores frente à construção da Linha Vermelha: 

Porque a gente já tinha a Avenida Brasil. E a Linha Vermelha ia impactar no barulho, no som, na poluição, e ia fechar a nossa comunidade. Ia dar uma imprensada, né? E a gente não concordava muito, mas foi feito. A gente chegou até a fazer movimento, chamado Maré Limpa, que dizia que antes de fazer isso, deveria limpar a Baía. Toda a Baía!

A Linha Amarela foi inaugurada em 1998, cortando a Maré entre o Timbau e o Conjunto Bento Ribeiro Dantas de um lado, e a Vila do Pinheiro e Conjunto do Pinheiro de outro. De acordo com o estudo de 2014 citado acima, nessa via passavam cerca de 130 mil veículos todos os dias — números certamente abaixo dos atuais, considerando o aumento da população carioca entre a data do estudo e o presente momento.

Linha Vermelha e o muro que isola a Vila do Pinheiro da via. Foto: Rio on Watch

As Linhas Vermelha e Amarela ainda são ladeadas por painéis de acrílico fosco. A instalação desses painéis, em vez de servir como isolamento acústico ou impedir a dispersão de poluentes dos automóveis no território. Sua finalidade, quase exclusiva, é a de ocultar a favela aos olhos dos motoristas e passageiros quem passa pelas vias expressas do Rio. A “solução” sem resolver os problemas enfrentados pelo território, como o passivo ambiental, a violência, entre outros. 

Linha Amarela e painéis. Foto: Thainara Amorim

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