Rio de contos

Assim como a crônica, o conto foi um gênero moderno que encontrou ampla aceitação na geração dos primeiros escritores no Brasil. No Rio de Janeiro, Machado de Assis foi também mestre absoluto dessa forma breve e de difícil sucesso.  

Após a ampliação do campo literário na então capital republicana, diversos contistas cariocas, como Lima Barreto – morador de Todos os Santos – e Marques Rebelo, de Vila Isabel, aprimoraram de forma exemplar a relação que o século XIX já havia produzido entre a narrativa curta e a cidade.  

Há, também, os escritores de diferentes partes do país que vieram para o Rio e fizeram da cidade o cenário perfeito para suas histórias. Os exemplos são infinitos, como o santista Ribeiro Couto – autor de contos carioquíssimos como “Baianinha” e “O crime do estudante Batista” – e o mineiro Aníbal Machado – com a tragédia carnavalesca “A morte da porta-estandarte”. 

Carlos Drummond de Andrade, Marques Rebelo e Aníbal Machado em 1960. Fundo Correio da Manhã – Arquivo Nacional

Alguns contistas que se tornaram célebres desenvolveram estilos muito peculiares para mostrar o Rio nas suas linhas. Dois deles, porém, deixaram marcas eternas na relação entre o gênero e a cidade: Clarice Lispector e Nelson Rodrigues deram às ruas cariocas uma presença incontornável.  

Na obra de Clarice, vemos personagens e bairros que passam em fluxo de bondes, ônibus, pensamentos e afetos – como a chegada de Ana ao Jardim Botânico no conto “Amor”, a “paz noturna da Tijuca” desejada por Carlota em “A imitação da Rosa”, o Largo da Lapa e as “centenas de pessoas reverberadas pela fome” em “Preciosidade”, a noite de maio em “Mistério em São Cristóvão”, o passeio no Jardim Zoológico em “O Búfalo” e o inconveniente “morto no mar da Urca”.  

Clarice Lispector em 1968. Fundo Correio da Manhã – Arquivo Nacional 
 

Nelson Rodrigues foi um autor que não só descreveu personagens únicos do cotidiano carioca de seu tempo, como também inventou outros muitos para a posteridade. Seu clássico A Vida como ela é, foi publicado pela primeira vez durante a década de 1950, no jornal A Última Hora, de Samuel Wainer, e compilado em antologia em 1961. Os personagens flanam pela cidade em traições, escândalos e segredos em carnavais, festas, botecos, transportes públicos, repartições e praças.  

Nelson Rodrigues em 1971. Fundo Correio da Manhã – Arquivo Nacional 

Em um dos mais famosos contos, “A dama do lotação”, Solange pratica suas “escapadas delirantes” nos ônibus da cidade e afirma que trai seu marido com “a metade do Rio de Janeiro, sim senhor!”. Apesar de não trazer referências explícitas a logradouros, todo ar dos contos de Nelson Rodrigues, assim como suas peças e crônicas, é carioca.  

Há outros contistas fundamentais na descrição das muitas vidas cariocas. João Antônio, por exemplo, fez do submundo e da vida simples nas grandes cidades seu refúgio, e imortalizou o Rio em livros como Malhação do Judas Carioca e Ó Copacabana. Sérgio Sant’anna, com sua excelente obra, transformou os bairros cariocas em cenário para tramas e narrativas inventivas, como em “O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro”.  

O escritor e ex-policial Rubem Fonseca foi um contista importante no imaginário literário sobre o Rio de Janeiro. Suas histórias traçam retratos crus de uma cidade à beira da ruptura social. É ele o autor do emblemático “A arte de andar nas ruas do Rio de Janeiro”, uma ode ao espírito flaneur de Joaquim Manuel de Macedo, João do Rio e outros escritores cariocas. 

Nos tempos atuais, dos contistas que seguem se debruçando sobre o Rio, existem autores como Marcelo Moutinho, Nei Lopes e Geovani Martins, com destaque para a obra de Alberto Mussa e seu mergulho em um viés histórico e mítico da cidade – presente tanto em seus romances, quanto em seus contos que compõem as “Histórias Cariocas”.   

Além de contista, Nei Lopes é um estudioso da cultura e da história da matriz africana no Brasil. Imagem retirada do site da Biblioteca Pública do Paraná 

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