Rio – Cidade-Estado

Em outubro de 1960, após a mudança da capital para Brasília e a transformação do Distrito Federal em Estado da Guanabara, Carlos Lacerda –  o 1º governante eleito pelo sufrágio universal (1960-1965) – iniciou uma série de intervenções urbanas. Numa cidade em que a falta d’água era cantada em samba, construiu a adutora do rio Guandu e ampliou a rede pública hospitalar em 30%. Quase dobrou o número de crianças estudando e aumentou em mais de 50% o número de professores. Instalou 6 km de túneis, entre eles o Rebouças, e foi responsável por levar a cabo o projeto do Parque do Flamengo, concebido e executado por sua amiga Lotta de Macedo Soares. Para financiar as obras, aumentou impostos e taxas e melhorou a arrecadação, contando com os substanciais auxílios financeiros dos EUA, que apoiava governantes brasileiros contrários ao governo Jango.

Túnel Rebouças em 1965 – Secretaria de Obras Públicas – Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro / Brasiliana Fotográfica

Por outro lado, desencadeou uma onda de remoções que causou muitos protestos e prejudicou a população menos favorecida, que foi levada para conjuntos habitacionais distantes e sem a devida infraestrutura. Sua administração foi acusada de queimar os casebres do Pasmado, cujos moradores haviam sido transferidos para a remota Vila Kennedy. Segundo reportagem do jornal Última Hora, o Serviço de Repressão à Mendicância exterminava indigentes e depois atirava os corpos no rio da Guarda. Embora o governador tenha punido os responsáveis, ganhou outro apelido, “o Mata-Mendigos”.

Matéria sobre o extermínio de pessoas sem-teto. Última Hora, 25 de janeiro de 1963, p. 9 – ed. 1032 – Hemeroteca Digital

Acabou perdendo a eleição de 65. Seu adversário e sucessor, Negrão de Lima, governou o Estado da Guanabara entre 1965 e 1970 ampliando a capitalidade da cidade com a implantação de grandes obras públicas, valorizando a orla marítima e iniciando uma nova concepção de calçadão destinado ao uso dos pedestres em Copacabana e em outros bairros da orla, o que permitiria, mais tarde, a criação de ciclovias.

Com o recrudescimento da ditadura e após a promulgação do AI-5 (13 de dezembro de 1968), o quinto e último governador da Guanabara foi escolhido pelo voto da maioria dos integrantes da Assembleia Legislativa. Foi assim que chegou ao poder Antônio de Pádua Chagas Freitas, que tomou posse em 15 de março de 1971. Então, em 1975, nova mudança: a fusão dos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, voltando a cidade-estado ao “status” de município, governado por prefeitos. Seu mandato teve fim exatamente quatro anos depois de sua posse, em 15 de março de 1975, com a fusão da Guanabara com o Rio de Janeiro num único estado.

O primeiro governador do novo estado foi o vice-almirante Floriano Peixoto Faria Lima, escolhido pelo general-presidente Ernesto Geisel. Já a antiga cidade-estado, agora na condição de município, teria como prefeito Marcos Tamoyo, indicado pelo novo governador. Marcos Tamoio voltou-se para o Centro, aproveitando a implementação da primeira linha de metrô, inaugurada pelo Governo Faria Lima.

Posse do 1º governador do estado do Rio, Floriano Peixoto Faria Lima, escolhido pelo general-presidente Ernesto Geisel. Foto de Sebastião Marinho, 15/03/1975. Acervo Agência O Globo

Depois Marcos Tamoyo (1975-1979), outros 4 prefeitos foram nomeados: Israel Klabin (1979-1980), Júlio de Morais Coutinho (1980-1983), Jamil Haddad (1983) e Marcello Alencar (1983-1985).

Diretas Já, redemocratização e só então assumiu o segundo prefeito eleito pelo sufrágio universal: Saturnino Braga. Intelectual brilhante, respeitado, honesto, admirado, derrotou Rubem Medina com larga margem de 20 % dos votos (Saturnino 38% x Rubem 18%). Entretanto, sua administração foi desastrosa: assumindo a administração de uma cidade com um elevado endividamento, que vinha desde a década de 1970 (até então, a prefeitura sempre havia conseguido rolar as dívidas), ao final de seu mandato decretou a falência do município do Rio, apesar das inegáveis boas intenções.

A principal ação de Saturnino Braga, prefeito entre 1986 e 1988, foi dar continuidade ao Projeto Corredor Cultural, iniciado em 1979, que revitalizou o patrimônio arquitetônico da cidade, valorizando o acervo eclético e art déco. Sob a gestão de Marcelo Alencar, a cidade sediou a ECO 92 e ingressou na cultura ecológica. Obras na orla marítima e nas áreas de reserva modificam o sistema de mobilidade urbana com as ciclovias e a repaginação visual da cidade.

O projeto do Corredor Cultural teve sua consolidação na Lei no 1.139, de 16 de dezembro de 1987. Imagem retirada do artigo de Nina Pinheiro Bitar, disponível na plataforma SciElo

Depois de Saturnino, as eleições diretas para prefeito ocorreram normalmente, como nas demais capitais brasileiras: Marcello Alencar, César Maia, Luiz Paulo Conde, César Maia, Eduardo Paes, Marcelo Crivella e, de novo, Eduardo Paes.

O período de 12 anos entre 1993 e 2005, em que César Maia se revezou na prefeitura com Luiz Paulo Conde, foi marcado pela despolitização do papel do prefeito, que passou a atuar como um administrador da cidade. Houve grandes intervenções e diferentes projetos foram executados, principalmente por meio dos programas Favela Bairro e Rio Cidade.

Ainda na década de 1990 surgiu um novo conceito no campo do planejamento urbano: o do planejamento estratégico, trazido pelo então secretário de Urbanismo, o arquiteto Luiz Paulo Conde. O primeiro projeto com esse perfil foi o Plano Estratégico da Cidade (PECRJ), Rio sempre Rio, de 1993, que apontava a necessidade de reposicionar a cidade para reverter a suposta crise de falta de investimentos. O PECRJ também inaugurou a adoção do marketing urbano como ferramenta de projeção internacional da cidade, o que significou construir uma nova centralidade para aquela que já havia sido capital do Império e da República, além de a única cidade-estado do país. Foi a partir daí que nasceu a primeira candidatura do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2004. 

Em 2004, já de volta à prefeitura, Maia lançou um novo Plano Estratégico: As cidades da cidade, que propunha a subdivisão da cidade em doze macro-zonas com planos específicos; O plano tratava cada região da cidade de forma independente e optava por empreendimentos isolados do espaço da rua, como a Cidade do Samba, na Gamboa; a Cidade da Música, na Barra da Tijuca; ou a Cidade das Crianças, em Santa Cruz.

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