Na ponta da língua
“É o meu som que mostra muito bem o que eu sou”, dispara o rapper Marcelo D2, em sua procura pela batida perfeita. D2 é considerado um dos maiores nomes do rap carioca. Começou sua carreira no Planet Hemp e se destacou pela capacidade de improvisar, criando rimas na hora, ao melhor estilo do samba de partido-alto. BNegão, outro ex-membro do grupo, avisa “o som tá na panela e o fogo tá aceso”.
No Rio de Janeiro, o rap se mescla com a sonoridade do samba, com o groove dos funkeiros. DJs sampleam trechos de músicas conhecidas, fazem montagens e misturas em sua ambição de ser música e ao mesmo tempo mais que música. Um som que modifica a cidade e é modificado por ela. Como afirma MV Bill: “abre os caminhos (…) som de preto, som do morro, som de gueto, te batendo”.
O rap, porém, é uma face famosa de um movimento que extrapola — e muito — os meandros do mainstream. Por diferentes bairros do Rio, têm surgido as chamadas “rodas culturais”, encontros comunitários de livre manifestação da cultura hip hop, realizados em espaços públicos, nos quais a disputa de MCs é o ponto alto. Essas rodas têm crescido tanto, que já foi criada uma Liga das Rodas Culturais do Estado do Rio de Janeiro.
Outra vertente que mistura criação literária, música, improviso e cultura urbana são os slams, espécie de batalha de poesia. Os slams têm crescido, sobretudo, em comunidades e no subúrbio, e com destaque por seu teor político. Além disso, chama atenção a presença maciça de mulheres jovens nessas batalhas de poesia, que muitas vezes dão ênfase à pegada feminista de seus versos — como é o caso do Slam das Minas, que começou em Brasília e São Paulo, mas já tem um grupo muito representativo no Rio.