Pagode: música num fundo de quintal
Reza a lenda que o pagode nasceu depois de uma pelada, na década de 1970, lá para os lados de Manguinhos. Mas a verdade é que o termo “pagode” já era usado para nomear certas festas desde o século XVI. As acepções da palavra foram ganhando novos tons com o decorrer do tempo, até que se popularizou a partir dos anos 1970, com a ideia de uma reunião musical feita num espaço informal, como um “fundo de quintal”.
Surdo, cavaquinho, pandeiro, violão e o reforço de um banjo adaptado com afinação e braço de cavaquinho dão forma ao som que ganhou força nos encontros realizados na sede do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, na casa do cantor João Nogueira, no Meier, e em outros espaços do subúrbio, como Cascadura e Oswaldo Cruz. Na prática, eram rodas de samba muito parecidas às que encontramos hoje pela cidade. Aos primeiros instrumentos, juntou-se o “repique de mão”, desenvolvido a partir de um tambor da bateria (o tom-tom) cuja característica é a levada peculiar que dá suingue especial à roda. Por fim, foi a vez do tantã. Um tambor com som grave, que substitui o surdo e é tocado somente com as mãos.
Nos anos 1990, o Brasil viu o surgimento do chamado “pagode romântico”, com grupos de música de linha mais melódica, como Revelação e Molejo. Isso acabou gerando uma espécie de cisão, ainda que não oficial. Para alguns, “pagode” é o que fazem esses grupos. Para outros, “pagode” continua representando o ritual inigualável das rodas de samba cariocas, que aparecem onde menos se espera: numa esquina, num pedaço de calçada, num fundo de quintal. Uma experiência musical que só acontece aqui. Músicos que talvez nunca tenham tocado juntos, entoando um repertório de sambas que nunca foi ensaiado e cuja sequência é determinada de improviso, com uma canção puxando a outra. Mais carioca, impossível.