Morro do Castelo
Uma colina que foi o berço do Rio de Janeiro e que, por quase 200 anos, deteve o seu centro de poder. Talvez essa seja a descrição mais sucinta da importância do morro do Castelo, a elevação cercada de várzeas, à beira da baía, para onde foram transferidos os primeiros habitantes portugueses do que é hoje o Rio de Janeiro. Após derrotar os franceses, em 1567, Mem de Sá decidiu refundar a cidade, mudando o pequeno núcleo que habitava o morro Cara de Cão, na Urca, para o lugar que, antes de se consolidar como morro do Castelo, era conhecido também como morro do Descanso, morro de São Januário, Alto da Sé ou Alto de São Sebastião.
De lá, no alto da colina que se estendia pelo que é hoje parte do Centro do Rio, era possível ficar de olho na Ilha de Villegagnon, onde os franceses poderiam se organizar para novo ataque. E então, o morro do Castelo foi ganhando uma fortaleza, prédios que serviriam à administração da cidade, igrejas, armazéns e moradias. A trama urbana que deu origem à capital fluminense foi se desdobrando a partir desse núcleo.
Dentre os poderosos que ocuparam o morro do Castelo, havia os jesuítas, que se instalaram com um colégio e uma igreja, até serem expulsos da colônia em 1759, pela famosa perseguição do marquês de Pombal. Esse episódio deu origem a uma das mais longevas e divertidas lendas a frequentar o imaginário carioca: a de que, na fuga, os religiosos teriam deixado um tesouro escondido nas galerias subterrâneas. Lima Barreto até descreveu, em textos folhetinescos publicados no jornal Correio da Manhã, o frisson após a descoberta de uma dessas galerias, durante a primeira parte do desmonte do morro, em 1905.
Essa primeira etapa do Bota-Abaixo foi feita para dar passagem à avenida Central, atual Rio Branco. Mas o morro desapareceu mesmo em 1920, para supostamente ceder espaço à grande exposição internacional comemorativa dos cem anos da independência do Brasil, em 1922. Não sem muita controvérsia, claro. Os defensores do desmonte argumentavam que botar abaixo o morro do Castelo também era questão de saúde pública, pois deixaria o ar circular melhor pela cidade. Os defensores de sua permanência apontavam a enorme importância histórica do lugar. Fato é que o morro do Castelo também incomodava porque, com o tempo, deixou de ser nobre. Em vez disso, era morada de gente humilde, trabalhadores e descendentes de escravizados.
A terra do desmonte do morro serviu para aterrar parte da região central da cidade, fazendo desaparecer a praia de Santa Luzia e dando origem a um pedaço do que mais tarde se tornou o aterro do Flamengo. Se olharmos bem, ainda há vestígios do morro do Castelo no Rio de hoje. A ladeira da Misericórdia, com seus tímidos 30 metros, é a única rua que sobrou do morro e fica ao final da rua de mesmo nome, na região do Centro que, não à toa, se chama Castelo. E, vez ou outra, alguém ainda se indaga se, no subsolo do centro do Rio, não haveria algum tesouro escondido.