Greve dos Sapateiros

Entre 28 de agosto e 16 de novembro de 1906, uma greve de sapateiros tomou grandes proporções no Rio de Janeiro. Na época, estava em curso um processo de concentração da produção nas mãos de poucos empresários, que investiam na mecanização da indústria de calçados. Os patrões aumentaram a pressão sobre seus empregados, impondo o pagamento de salários abaixo dos padrões estabelecidos no mercado.

Boa parte dos 127 estabelecimentos dedicados ao ofício na cidade eram oficinas que empregavam, em média, 20 pessoas. Por outro lado, existiam fábricas bem maiores, com cerca de 100 operários. Os trabalhadores reivindicavam o respeito dos empregadores, tanto nas fábricas de grande porte quanto nas menores, à tabela de salários definida pela União Auxiliadora dos Artistas Sapateiros. Os grevistas criaram ainda uma “caderneta oficial”, regulamento a ser assinado como garantia de cumprimento do acordo.

Como não obtiveram resposta, os sapateiros decidiram, em assembleia, paralisar as atividades. A capacidade de mobilização do movimento foi demonstrada pelo registro do livro de presença da União Auxiliadora, que contou com cerca de três mil assinaturas, além das muitas doações recebidas pelo fundo de greve organizado pela categoria.

Seção “Vida Operária” do jornal Correio da Manhã, em 1906. Correio da Manhã, Rio de Janeiro.
Hemeroteca da Biblioteca Nacional

Apesar da violência exercida pela repressão policial, a greve foi mantida por mais de dois meses. Durante a paralisação, os grevistas promoveram diferentes formas de manifestação. A mais importante foi uma passeata pacífica, que reuniu cerca de quatro mil trabalhadores, em 11 de outubro. Diante da resistência, a única alternativa da classe patronal foi aceitar a pauta de reivindicações dos sapateiros, que saíram vitoriosos.

Nota sobre a greve dos sapateiros em 1906. Correio da Manhã, Rio de Janeiro. Hemeroteca da Biblioteca Nacional

Esse texto foi elaborado pelo pesquisador Bruno Viveiros Martins do Projeto República (UFMG).

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