Greve de escravizados

Durante muito tempo, considerou-se como marco inicial das greves no Rio de Janeiro, a paralisação dos tipógrafos em 1858. Entretanto, durante todo o século XIX, escravizados foram empregados em fábricas e manufaturas ao lado de trabalhadores livres, e participaram de diversas paralisações ativamente, ainda que esse fato tenha sido pouco noticiado ou que as informações tenham sido registradas de maneira incompleta.

Os escravizados ocupavam diferentes postos de trabalho na cidade, muitas vezes ao lado de trabalhadores livres. “Vendedores de café queimado” – gravura dos Irmãos Thierry a partir de Debret. Fonte: Brasiliana Iconográfica

Entre 1840 e 1850, 45% dos trabalhadores nos ramos de papel, sabão, couros, chapéus e têxteis eram cativos. Ao longo do século, esse percentual diminuiu, mas, até 1888, nunca foi menor do que 20%. O censo de 1872 registrou, nas pequenas fábricas da cidade, 2 mil escravizados como trabalhadores ativos. 

“Paredes” – como eram chamadas as paralisações no período – de escravizados foram registradas, com diversas reivindicações, ao longo de todo o século. No fim dos anos 1820, os trabalhadores cativos da Real Fábrica de Pólvora, no Jardim Botânico, se uniram aos trabalhadores livres para reivindicar melhorias nas condições de trabalho, incluindo diárias e dieta alimentar.

Portão da antiga Fábrica de Pólvora – Jardim Botânico, Rio de Janeiro. Litogravura de Georges Wambach. BN Digital

Em 1854, os trabalhadores escravizados da Fábrica de Velas e Sabão da Gamboa, armados de pedaços de lenha e facas, paralisaram o trabalho e solicitaram sua venda para outro escravizador. Não há registros dos motivos que levaram às demandas, mas diante das manifestações, o proprietário Joaquim da Rocha Paiva usou a força policial para conter os “paredistas”, que acabaram se rendendo. 

Em 1858, cativos que trabalhavam num armazém de café da rua da Saúde se revoltaram contra o proprietário do negócio, Manuel Ferreira Guimarães, que havia decidido vendê-los para sanar a grave situação financeira pela qual o empreendimento passava. Os operários fizeram uma paralisação, alegando receio de irem para as áreas rurais trabalhar nas lavouras de café. Mesmo diante do cenário de escravidão, era mais vantajoso permanecer na área urbana pela possibilidade de morar “sobre si” e a facilidade de fazer amizades e arranjos familiares. Mais uma vez, a repressão policial acabou com a paralisação e os grevistas foram presos na Casa de Detenção.

Apesar dos poucos e incompletos registros, as greves de escravizados eram uma realidade no Rio de Janeiro do século XIX. Sob diversas formas de organização, os cativos pararam as manufaturas, empreenderam fugas e se uniram aos trabalhadores livres a fim de fazerem suas demandas serem atendidas, mesmo no cenário hostil do mundo escravista.

O “mito do imigrante radical” confere passividade ao trabalhador escravizado, como se essas pessoas não se rebelassem contra as condições precárias de trabalho. Imagem retirada do artigo de Antonio Luigi Negro e Flávio dos Santos Gomes – Revista Ciência e Cultura

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