Entrudo
Até meados do século XIX, o entrudo era a manifestação carnavalesca mais difundida entre a população carioca. A festa, que acontecia nos 3 dias anteriores à Quaresma, teve origem portuguesa e encontrou solo fértil desse lado do Atlântico. Consistia na ocupação das ruas das cidades e dos espaços rurais pelo povo, que brincava jogando água, farinhas e outras coisas mais. Foliões de todas as classes sociais reviravam a cidade de cabeça para baixo, toda e qualquer ordem era subvertida, e o passante desavisado que, por azar, desse de cara com os brincantes, corria sérios riscos de ser “agraciado” com petiscos de recheio duvidoso ou um banho de lama, água suja, café ou até mesmo urina.
As famílias abastadas praticavam o entrudo familiar, dentro de suas casas, com bisnagas de água perfumada e limões de cheiro, enquanto o melhor da festa acontecia na rua. Era lá que os pobres, inclusive escravizados, misturavam-se para festejar, dançar, cantar e liberar as energias, atacando quem passasse com sua “munição”! Era um espaço de “subversão de cidadanias negadas”, nas palavras de Luiz Antônio Simas.
Apesar do sucesso do entrudo, foram muitas as tentativas de proibir a festa. No período republicano, a repressão se intensificou. Na década de 1890, choveram proibições legais e ações policiais, ecoando a forte campanha negativa empreendida pela imprensa e por uma elite que tentava se desvincular das manifestações populares e implementar as práticas higienistas.
A despeito de toda a repressão, o entrudo se manteve presente na cidade até os primeiros anos do século XX e, junto aos cordões e seus mascarados, fizeram a alegria de grande parte da população.
Referências:
ENDERS, Armelle. A história do Rio de Janeiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Gryphus, 2015.
MONTEIRO, Débora Paiva. O mais querido “fora da lei”: um estudo sobre o entrudo na cidade do Rio de Janeiro (1889-1910). Disponível em: Encontro ANPUH 2010
SIMAS, Luiz Antônio. O corpo encantado das ruas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2020.