Cordões carnavalescos

“Era em plena rua do Ouvidor. Não se podia andar. (…) Era provável que do largo de S. Francisco à rua Direita dançassem vinte cordões (…), rufassem duzentos tambores, (…), gritassem 50 mil pessoas. A rua convulsionava-se como se fosse fender, rebentar de luxúria e de barulho”.

O trecho acima foi escrito por João do Rio em 1908, mas poderia ser o relato de um observador do século XX. Ele fala sobre os cordões carnavalescos, tradição que comandou o carnaval carioca de meados do século XIX até o início do XX, período em que o Entrudo começou a perder o protagonismo.

Chamados assim por causa dos grupos de foliões que andavam em fila, os cordões eram compostos por trabalhadores braçais, moradores dos subúrbios e demais desfavorecidos – a maioria homens –, vestidos com as mais diversas fantasias e máscaras. Palhaços, diabos, reis, rainhas, índios e baianas saíam às ruas entoando suas cantigas, acompanhados dos batuques sincopados da percussão, em um carnaval repleto de teatralidade e alegria!

Cordão da Bola Preta no Carnaval de 1936. Fonte: BN Digital

Os nomes eram os mais diversos: dos assustadores “Rompe e Rasga”, “Filhos do Inferno” e “Filhos de Satã”, aos mais humorísticos, como “Flor dos Perebas” ou “Inimigos do Trabalho”. Muitos indicavam a origem dos cordões, a associação às famosas maltas de capoeira ou heranças culturais de povos africanos. No início do século XX, mais de 200 cordões disputavam espaço nas ruas durante o Carnaval.

Assim como o Entrudo, eles foram alvo de intensa repressão policial desde que surgiram. O desejo das elites, de se modernizar e adequar aos moldes europeus, não dialogava com o carnaval das ruas, com suas fantasias e máscaras baratas, brincadeiras escandalosas e, muitas vezes, confusões e brigas que saíam no meio da multidão.

Cordão do Bola Preta em desfile de 1969. Fundo Correio da Manhã – Arquivo Nacional

Com a Proclamação da República, essa repressão se intensificou, e muitos cordões deixaram de existir nas primeiras décadas do século XX. Os ranchos – comandados pelas tias baianas – e os blocos assumiram o protagonismo.

Muito semelhantes aos cordões, mas com inovações como alegorias em carroças, mestres de harmonia e forte presença feminina (as pastoras), os ranchos foram as principais influências para a criação da primeira escola de samba.

O grupo de pastoras do rancho Ameno Resedá em 1911. Imagem retirada do site Identidades do Rio – UFF

Referências

CUNHA, Fabiana Lopes. Os “Cordões” entre confettis, serpentinas e lança-perfumes: o carnaval do “Zé Povinho” e as diferentes formas de brincar e tentar regrar o carnaval carioca em fins do século XIX e início do XX. Diálogos (Maringá. Online), v. 19, n.2, p. 565-591, mai./ago. 2015. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/3055/305541164007.pdf
CUNHA. Leonardo M. Selvagens, atroadores e belos: a ambiguidade nas representações dos grupos carnavalescos populares pela imprensa carioca do início do século XX. Tese (Doutorado em História) – PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2006. Cap. 3. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/7726/7726_5.PDF
RIO, João do. A alma encantadora das ruas. 1908. Disponível em: http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/alma_encantadora_das_ruas.pdf

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