Companhia de Tecidos Carioca (Jardim Botânico) – 1884
O Jardim Botânico e o Horto foram importantes áreas fabris. Graças às condições ambientais favoráveis, a região oferecia água em abundância para a movimentação das máquinas das fábricas de tecidos que ali se instalaram. A Companhia de Tecidos Carioca foi uma delas.
Fundada em 1884 na estrada Dona Catarina (atual rua Pacheco Leão), atrás da rua Jardim Botânico, a fábrica foi grande responsável pelo povoamento do atual bairro – à época, parte da Freguesia Nossa Senhora da Gávea.
A ocupação do bairro se deu a partir da construção de duas vilas operárias, destinadas aos funcionários Companhia de Tecidos Carioca, na então Chácara do Algodão: uma, construída pela própria fábrica; e a Vila Arthur Sauer, erguida pela Companhia de Saneamento – proprietária da chácara.
Os trabalhadores tinham uma rotina bem delimitada: a jornada de trabalho começava às 7h e ia até às 16h40 – com horário de almoço das 11h às 12h. Depois do expediente, os operários frequentavam espaços de lazer dentro das próprias vilas, como o Clube Musical, organizado pelos moradores, que também eram responsáveis por todas as demais atividades de lazer: futebol, basquete, festas, jogos, teatro, música e dança. Essas atividades eram incentivadas pelos patrões.
A saúde dos operários era responsabilidade do Dr. Alberto Ribeiro, que trabalhava em regime de exclusividade para a fábrica. As consultas eram realizadas durante o horário de almoço. Além disso, a fábrica também disponibilizava um armazém dentro da vila. Era ali que os operários tinham acesso aos alimentos dos quais necessitavam, e os gastos já vinham descontados nas folhas de pagamento. Todos esses aspectos facilitavam o controle da vida e dos corpos dos operários.
Em 1920 a Companhia de Tecidos Carioca, junto às vilas operárias, foi vendida à Companhia América Fabril. Com o encerramento das atividades da fábrica em 1962, os antigos operários organizaram uma frente de resistência contra o despejo dos moradores e a demolição das vilas. Com isso, iniciou-se um entrave judicial entre os moradores e a Companhia América Fabril. Após anos de luta, foi realizado o tombamento da vila pelo prefeito Saturnino Braga, considerando a importância histórica das vilas.
Com o tombamento decretado, a vila continuou a abrigar seus antigos moradores. Contudo, novas implicações vieram à tona com relação a permanência desses ex-operários: a região passou por um grande processo de gentrificação, com o aumento dos preços e, gradualmente, a substituição dos antigos moradores por famílias abastadas. Atualmente, o Jardim Botânico – que começou como um bairro operário, é um dos mais caros do Rio de Janeiro.