Bens Tombados de Marechal Hermes

Autores: Antonio Pedro Palhares, Isabelle Almeida, Joana Cardoso, Leticia Souza, Luana Noronha e Maria Marques.

O bairro de Marechal Hermes foi um dos primeiros bairros operários planejados do Brasil. Inaugurado em 1913 com a presença do então presidente da República Marechal Hermes da Fonseca, o bairro começou a crescer e  desenvolver-se ao redor da estação de trem, com traços arquitetônicos  modernistas.  

Em 1914, fim do mandato de Marechal Hermes, o projeto foi abandonado. Os trabalhos no bairro só voltaram no governo de Getúlio Vargas.

Tombamento de Bens

“O tombamento significa um conjunto de ações realizadas pelo poder público com o objetivo de  preservar, por meio da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico,  ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou  descaracterizados”.1

As Áreas de Proteção do Ambiente Cultural (APAC)

A APAC – Área de Proteção do Ambiente Cultural – foi desenvolvida em função de proteger  conjuntos arquitetônicos que, por suas características, conferem qualidades urbanas à região, sem que impeçam seu desenvolvimento. 

Uma APAC é constituída, por exemplo, por casas térreas, sobrados, prédios, ruas e praças – seja  qual for o porte, os usos ou atividades – que tenham valores culturais que conferem uma identidade própria a cada área urbana. 

Bens Tombados de Marechal

I. Escola Municipal Evangelina Duarte Batista 

Localizada na praça Quinze de Novembro, em Marechal Hermes, o prédio da escola foi inaugurado durante a administração do Prefeito Bento Ribeiro (1910-14) e restaurado em 1934, quando recebeu o nome de Evangelina Duarte Batista, esposa do então Prefeito do Distrito Federal, Pedro Ernesto Batista. 

Escola Municipal Evangelina Duarte Batista atualmente. Fonte: site Agências Postais

A construção da escola Evangelina Duarte Batista fez parte do projeto de “Vilas operárias”, concebido pelo Presidente Marechal Hermes da Fonseca (1910-14). Possui o mesmo projeto arquitetônico da escola municipal Santos Dumont, que ocupa o lado oposto da praça Quinze de Novembro. Foi tombada a partir do decreto 29786, de 29 de agosto  de 2008. 

“O projeto combina diversos estilos, o que lhe confere importância como exemplar do ecletismo. No  vão da entrada, sobressai o portão de ferro da época da inauguração, com desenho delicado de influência art  nouveau. Uma das características interessantes da construção é o posicionamento das salas voltadas para um  pátio interno, circundado por varandas.”2 

II. Colégio Estadual Professor José Accioli 

A instituição foi fundada em abril de 1954 e chamada, inicialmente, de Ginásio Municipal de  Marechal Hermes. Em maio do mesmo ano, o Prefeito do Distrito Federal, Dulcídio do Espírito Santo Cardoso, modificou o nome da instituição, que tornou-se Ginásio Municipal Professor José Accioli em homenagem a um catedrático do Colégio Pedro II, – homem devotado aos problemas do magistério e da educação. O nome atual, Colégio Estadual Professor José Accioli, data de 1966.

O prédio da escola fez parte do início do movimento modernista na cidade. Fonte da imagem: site Sua escola tem história

O edifício da escola, que fica na rua Costa Filho, n° 500, foi tombado no dia 27 de maio de 1980, a partir do decreto 37.069. Destaca-se que o Colégio Estadual Professor José Accioli possui vasto valor artístico e histórico, pois sua construção fez parte do início da arquitetura modernista na cidade do Rio de Janeiro.

III. Edifício do Curso de Mecânica e Eletrotécnica da Escola Técnica  Estadual Visconde de Mauá 

A atual Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá (ETEVM) foi inaugurada em 1914. Antes disso, o prédio principal (atual edifício do curso de mecânica e eletrotécnica) da escola foi utilizado como oficina na preparação do material destinado à construção da Vila Proletária Marechal Hermes. Depois de muitas mudanças no nome do edifício, em 1983 passou a chamar-se Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá. Em 10 de junho de 1997, através da lei 2735, sua administração foi transferida para a Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC). 

A Mauá começou a funcionar no regime de externato, com mais de cem alunos. O ensino ministrado era de nível primário e a montagem das oficinas (carpintaria, marcenaria, entalhe, ferreiro, ajustador e torneiro  mecânico) foi realizada pelos funcionários e os próprios alunos da escola. A oficina era utilizada para preparação do material destinado à construção da Vila Proletária Marechal Hermes, com aproveitamento de terrenos da antiga Fazenda de Sapopemba.

A Escola Visconde de Mauá no início do século XX. Fonte: Facebook ETVM

IV. Escola Municipal Santos Dumont 

A Escola Municipal Santos Dumont tem esse nome em homenagem ao famoso aeronauta brasileiro, também conhecido como “O pai da aviação”. A escola teve seu tombamento oficializado no dia 21 do mês de junho de 1990, pelo Decreto 9141. 

A arquitetura eclética da escola tem grande valor histórico. O ecletismo surgiu no meio do século XIX, muito ligado às revoluções industriais da Europa e dos Estados Unidos. É um estilo de  arquitetura que visa demonstrar grandiosidade, simetria, profunda e rigorosa hierarquização dos espaços internos e riqueza decorativa.

Colégio Santos Dumont, sem data. Fonte: Facebook Marechal Hermes antigo

V. Estação Marechal Hermes 

Inaugurada em 1913, a Estação de Marechal Hermes foi nomeada em homenagem ao Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca. A criação da estação e a duplicação da linha férrea tornaram mais simples a conexão de Marechal até a Central do Brasil, causando crescimento comercial, além de melhorias na urbanização e saneamento do bairro. 

Com tijolos trazidos diretamente da Inglaterra pelos navios mercantes e uma estrutura marcada pela presença de telhas francesas, detalhes em azulejos de origem alemã e belga, além dos arcos de ferro franceses, a estação é considerada uma das mais bonitas da cidade.

Estação Marechal Hermes por volta de 1913. Fonte: site Estações ferroviárias

VI. Teatro Armando Gonzaga 

Foi inaugurado em abril de 1954 pelo prefeito do período, Dulcídio do Espírito Santo  Cardoso. Seu nome é uma homenagem ao jornalista e dramaturgo Armando Gonzaga.Além de espetáculos, o teatro oferece cursos de teatro, vídeo e dança. Entretanto, permaneceu fechado durante a pandemia de Covid-19. 

O Teatro Armando Gonzaga foi tombado em 1989 pelo Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (INEPAC). 

O teatro há cerca de 50 anos. Fonte: Flickr Caminhos do Subúrbio

Com construção de Affonso Reidy e paisagismo de Burle Marx, os jardins rústicos e delicados possuem design marcante, assim como as cortinas do palco. Paulo Werneck fez os azulejos exteriores, que casam perfeitamente com os jardins de  Burle Marx e dão ao Teatro Armando Gonzaga grande originalidade.

Memórias

Gabriel Silva tem 15 anos, é estudante do 1º ano de análises clínicas na ETE Oscar Tenório e relembra  sua formatura do ensino fundamental 1, que ocorreu no Teatro Armando Gonzaga. 

“A minha formatura aconteceu em 2016, no Teatro Armando Gonzaga, em Marechal. A escola em que  eu estudava tinha organizado uma peça teatral e o tema da minha turma era João e Maria. Eu fiz o papel do  gigante. Ensaiei o ano todo, mas quando chegou a hora de me apresentar foi um  caos, porque acabei esquecendo as minhas falas e me embaralhando. Lembro-me também de não ter um  figurino específico. Eu estava usando uma blusa branca, uma jaqueta preta e uma calça. A plateia estava  lotada, e foi a primeira vez que me apresentei em Marechal.”  

Foto: acervo pessoal

Vera Lucia Fernandes Lopes tem 70 anos e é mãe da Prof.ª Cristina, atual professora de espanhol da ETE  Oscar Tenório. Ela recorda alguns momentos marcantes vivenciados em Marechal Hermes. 

“No Teatro Armando Gonzaga, no nosso querido bairro de Marechal Hermes, vivi um momento lindo quando o  nosso inesquecível Palhaço Carequinha se apresentou. Tive a oportunidade de levar meus filhos pequenos para  conhecerem o ídolo da minha infância, e que também estava fazendo parte da deles. Assistimos duas  sessões seguidas, e toda vez que ele perguntava ‘Quem fazia xixi na cama?’, a minha filha era a primeira a gritar ‘Eu  não faço. Na Escola Municipal Santos Dumont, tive bons momentos como professora em 1976. Na época eu estava  grávida da minha filha. Estacionava meu fusquinha em frente à escola. Antes não havia movimento de carro  como hoje. Foram momentos marcantes em minha vida”, diz Vera.  

Foto: acervo pessoal

Luiz Felipe da Silva Borges tem 17 anos e é aluno do 3º ano de gerência em saúde, na ETE Oscar Tenório.  Ele nos conta sobre um evento frequente na escola Visconde de Mauá. 

“O nome do evento é “Explosão Cultural” e é uma tradição no Mauázinho, assim como as feiras na Oscar Tenório.  O evento mistura exposições de artes feitas por alunos, apresentações musicais, comida boa e barata, fantasias… Enfim, é  incrível. E o momento mais marcante para mim ocorreu na edição de 2018. Foi quando parte do 9° ano subiu ao palco para juntos cantarmos uma música. Foi como um grande encerramento para todos nós. O evento é realmente incrível e a gente aproveitou cada momento.”

Foto: acervo pessoal
  1. (Fonte: Cidade de São Paulo – perguntas frequentes sobre tombamento. Disponível em: https://www.capital.sp.gov.br/cidadao/cultura/imoveis-tomabados-e-patrimonio-historico/perguntas-frquentes-sobre-tombamento) 
  2. Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro. Escolas tombadas. Disponível em: http://www0.rio.rj.gov.br/sme/crep/escolas/escolas_tombadas/em_evangelina_d_batista.html

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