Cabeça de Porco
Em 26 de janeiro de 1893, em frente ao nº 154 da rua Barão de São Félix, uma grande quantidade de pessoas se juntou para acompanhar a demolição do cortiço Cabeça de Porco.
O Cabeça de Porco existiu por cerca de 50 anos. Assim como os outros cortiços que proliferaram pelas ruas do Rio no século XIX, ele serviu de moradia às classes pobres da Corte (trabalhadores livres, libertos e escravizados), que, com a necessidade de procurar serviço diariamente, optavam por residir no centro da cidade – local com maior demanda de mão de obra.
Essa procura estimulou especuladores a edificar cortiços – habitações coletivas com aluguéis mais baratos e condições bem mais precárias do que as casas existentes. Nas décadas de 1850 e 60, essas habitações se multiplicaram. Em 1868, só na freguesia de Santana (onde o Cabeça de Porco ficava), havia mais de 150; em 1884, na mesma região, o número de cortiços chegava a 392.
Entre todos os cortiços, o Cabeça de Porco veio a se tornar um dos mais famosos e populosos: estima-se que lá moravam cerca de 2 mil pessoas. No portão frontal, uma cabeça de porco trabalhada em ferro ornamentava a entrada. Quase um bairro, a estalagem contava com um longo corredor central, duas alas com mais de cem casinhas e outras “ruas”, com mais casas. A parte de trás dava para o atual morro da Providência.
A partir da metade do XIX, o medo das revoluções escravas que eclodiram no Brasil aumentou a preocupação com as habitações populares. Alinhada ao discurso higienista, a Câmara Municipal criou uma série de posturas que visavam a dar fim às estalagens, principalmente, a partir dos anos 1870.
O Cabeça de Porco resistiu, não sem reclamações, que ganhavam a imprensa com argumentos que iam desde a questão sanitária ao velho preconceito de raça e classe. Porém, em 1893, ele foi finalmente demolido. A demolição foi tratada como um grande espetáculo pela imprensa e pela população, que acompanhou a ação encampada pelo prefeito Barata Ribeiro.
Quando as paredes começaram a ruir, os moradores bateram em retirada, com aquilo que podiam salvar. Alguns acabaram montando seus casebres no morro da Providência.