Lugares
Na região do Cais do Valongo, no século XIX, os africanos estavam por toda parte, não apenas no mercado de escravizados. Eram eles que remavam os barcos que levavam pessoas e mercadorias até o local de desembarque, já que as grandes embarcações não chegavam até as praias cariocas. Carregavam e descarregavam tudo; transportavam, vendiam produtos alimentícios e comida pronta nas ruas — neste caso, as mulheres africanas, sobretudo — e realizavam diversos tipos de trabalho, inclusive serviços especializados. Muitos de seus descendentes diretos seguiram nestas funções. No tempo da escravidão e no pós abolição, após o dia longo de trabalho, reuniam-se para descansar, cantar e socializar. Um dos lugares de encontro era a Pedra do Sal.
As igrejas de São Domingos de Gusmão, que se localizava na esquina entre a Rua Camerino e a Presidente Vargas — já demolida —, Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, Nossa Senhora da Lampadosa, Santo Elesbão e Santa Ifigênia, localizadas na região central da cidade, eram ocupadas por irmandades de negras e negros, com suas festas, enterros e celebrações diversas — católicas, porém africanizadas. No entorno destas igrejas circulavam africanos e africanas e seus descendentes diretos, em todo o século XIX e início do século XX.
No Campo de Santana (atual Praça da República), desde as primeiras décadas do século XIX, o chafariz das lavadeiras reunia escravizadas e libertas ao seu redor, na conversa, na cantoria e na troca de informações. Neste local, em torno da fonte que trouxe água do Rio Comprido, carregadores de água se encontravam, conversavam, discutiam, conseguiam trabalho.
Na Rua Barão de São Félix (antiga Rua Princesa dos Cajueiros), bem próxima à atual rua Camerino (antiga Rua do Valongo) e da atual Praça dos Estivadores (antigo Largo do Depósito) morou e teve casa de candomblé o famoso João Alabá, sacerdote respeitado pelo conhecimento que possuía sobre sua religião. Sua muito frequentada casa, que teria sido instalada em 1886, era também local de reunião de algumas mulheres que eram lideranças populares na região portuária e central da cidade, e ficaram conhecidas popularmente como tias. Entre elas, tornou-se mais famosa Hilária Batista de Almeida, conhecida por Tia Ciata, que segundo consta, fez parte da casa religiosa de João Alabá como Ya Kekere – Mãe Pequena.