A Escola de Artes Visuais do Parque Lage
Depois de passar alguns anos vivendo em Nova York, o artista carioca Rubens Gerchman regressa ao Rio de Janeiro em 1975. Pintor emblemático da cena que renovou as artes visuais brasileiras nos anos de 1960, seu retorno ficou marcado não por conta de seus trabalhos conhecidos por todos, e sim por uma ação institucional e formadora que mudaria para sempre a cidade. Por sua idealização e sugestão, foi criada nas dependências do Parque Lage, no Jardim Botânico, como substituição dos trabalhos do Instituto de Belas Artes do Estado do Rio de Janeiro, a Escola de Artes Visuais, conhecida como EAV.
Seus quatro primeiros anos, sob gestão de Gerchman, propiciaram para a arte carioca um espaço de liberdade estética e intelectual. Com cursos livres e forte presença da pintura feita em grandes ateliês coletivos, a EAV foi aos poucos renovando as linguagens e as gerações de artistas que a frequentaram. No seu espaço, além das artes visuais, literatura (com forte presença dos poetas da chamada “geração mimeógrafo” ou poesia marginal), teatro (como espaço de ensaios e cursos de grupos fundamentais da cidade como o Asdrúbal Trouxe o Trombone), o cinema, a dança e a música (com inúmeros shows de grandes nomes da MPB e bandas desconhecidas pelo grande público), a antiga casa da cantora de ópera Besanzoni Lage aglutinou uma quantidade imensa de novos talentos e de populares – alguns números falam que chegaram a ter dois mil alunos simultaneamente – que buscavam ampliar sua relação com a cultura.
Entre oficinas, cursos, debates e ações criativas que envolviam a coletividade, Gerchman promoveu uma série de experiências pedagógicas que ampliaram a qualidade e a variedade das práticas artísticas na cidade. Alguns dos nomes impressionantes que passaram por lá nesse primeiro período de efervescência foram, por exemplo, Lélia Gonzalez, Mário Pedrosa, Lina Bo Bardi, Antonio Dias, Hélio Eichbauer, Celeida Tostes, Roberto Magalhães, Xico Chaves, Alair Gomes, Cacaso, Dionísio Del Santo, Chacal, Claudio Ulpiano, Joaquim Tenreiro, Rosa Magalhães, Sérgio Santeiro e Marcos Flaksman.
Os frutos dessa transformação do antigo Instituto Estadual de Belas Artes em Escola de Artes Visuais produziram impactos imediatos na década seguinte, cristalizado em exposições emblemáticas – caso da famosa Como vai você geração 80? – ou em outras iniciativas marcantes na cultura da cidade, como a criação, em 1980, do Circo Voador. Até hoje a EAV segue sua vocação de escola de artes, formando boa parte da cena carioca e funcionando como espaço de encontro, aprendizado e resistência.