Uma cidade experimental

Na década de 1970 uma nova geração de artistas visuais passou a desenvolver trabalhos cujo teor radical os deslocava para a experimentação de novos suportes e ações. O caráter performativo de muitos desses trabalhos teve tanto acolhimento no interior de instituições quanto o risco de serem feitos diretamente na rua. O risco vinha do enfrentamento das forças de segurança dos governos civis-militares do período. 

Ainda em 1970 dois jovens artistas que se tornaram grandes nomes no cenário nacional fizeram trabalhos cujo impacto se tornou histórico. O brasiliense Cildo Meireles inicia a sua série batizada de “inserções em circuitos ideológicos”, isto é, utilizar suportes comuns de circulação coletiva pela cidade – como classificados de jornais, garrafas de vidro de Coca-Cola e notas de dinheiro – para inserir mensagens ditas “subversivas” sobre o momento político brasileiro. A circulação desses itens causou na época celeuma entre as autoridades. 

Cildo Meireles, “Inserções em circuitos ideológicos”. Fonte: Site Catálogo das artes

Mas nada foi tão impactante quanto o trabalho do português radicado no Rio de Janeiro Artur Barrio. Ele desenvolveu uma série de objetos intitulados “trouxas ensaguentadas”. O artista criava um emaranhado de materiais orgânicos e dejetos que simulavam uma espécie de corpo abandonado. Sua estratégia era deixar essas “trouxas” em lugares públicos do Rio de Janeiro como a Lagoa Marapendi, na Barra da Tijuca, Copacabana, Ipanema, Avenida Niemeyer ou Jacarepaguá. Diversas vezes a Polícia Militar foi convocada para averiguar tais objetos que simulavam os corpos torturados e assassinados no período. 

Artur Barrio, “Trouxas ensanguentadas”, MAM-Rio, 1969. Fonte: Revista Usina

Na esteira dos eventos na área externa do MAM que ocorriam no período, Luiz Otávio Pimentel e Flamarion, dois nomes que faziam parte da cena contracultural da cidade, realizam em julho de 1970 o evento chamado Orgamurbana, com obras de Hélio Oiticica, Carlos Vergara, Antonio Manuel, Torquato Neto, Décio Pignatari, cuspidores de fogo e a percussão de um recém-chegado na cidade: Naná Vasconcelos. Já em 1972 é a vez do próprio Vergara usar o MAM para realizar o evento coletivo Ex-posição, cuja ideia era reunir artistas de diferentes meios, como Oiticica, Waly Salomão, Chacal, Anna Bela Geiger, Ivan Cardoso, Rubens Gerchman entre outros. 

Waly Salomão, “Conheço o Rio de Janeiro com a palma da minha mão cujos traços desconheço”, trabalho fotográfico apresentado em Ex-Posição, MAM-RJ, 1972. Foto: Bina Foniat (1992). Fonte: Antonio Miranda

Foi em 1975, porém, que a ideia de uma arte transgressora das normas ganhou força e espaço quando é inaugurada no MAM a Área Experimental. Um espaço móvel no museu, destinado a abrigar um programa de exposições individuais (quarenta, no total) com artistas de diferentes períodos (com ênfase nos mais jovens) cujas obras escapassem dos formatos tradicionais ou correntes no período e, ainda, pudessem ser vistas como “vanguarda”. Com forte apelo à escultura, objetos e vídeos, o programa de exposições da sala durou até 1978, quando ocorre o trágico incêndio do museu. Por lá, passaram nomes importantes hoje em dia como Tunga, Lygia Pape (a mais experiente do grupo), Cildo Meireles, Waltércio Caldas, Fernando Cochiarale, Paulo Herkenhoff (esses dois últimos acabaram se tornando importantes críticos e curadores cariocas), Sônia Andrade, Letícia Parente, Ivens Machado, Carlos Zilio, Umberto Costa Barros, Luiz Alphonsus, entre outros e outras.

Letícia Parente na sua exposição realizada na Área Experimental do MAM, 1976. Fotografia: Ana Vitória Mussi. MAM-Rio

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