Escolas de Arte
Uma das bases para que uma cidade tenha um sólido circuito de artes visuais é, sem dúvida, a formação de novos artistas. Com o crescimento urbano e as mudanças no meio da arte no Rio de Janeiro, a ampliação de espaços para aulas de pintura, desenho e gravura promovem a formação de diversas carreiras que seriam grandes nomes das artes no Brasil e no mundo. Algumas dessas iniciativas iam desde grupos independentes que se reuniam ao redor de mestres – como fora a experiência do Grupo Guignard na década de 1940 – até novas instituições de ensino que ofereciam cadeiras voltadas para tal público.
Dentre algumas das iniciativas independentes, temos o pioneirismo de Augusto Rodrigues, Lúcia Valentim e a pintora norte-americana Margareth Spence e a fundação em 1948, da Escolinha de Arte do Brasil. Além de salas de aula, outro ambiente de troca e ensino ocorriam nos encontros em ateliês e casas como os de Bruno Giorgi no Leme, do crítico Mário Pedrosa ou o ateliê de Iberê Camargo, localizado na Lapa. Outrora aluno de Guignard, o pintor – e agora mestre das novas gerações – também seria responsável, em 1953, pelo ateliê de gravura em metal, no Instituto Municipal de Belas Artes (onde formou nomes como o pintor Carlos Vergara). Também ocorreram cursos formais, como o convite da Prefeitura do Rio de Janeiro e do Departamento de Difusão Cultural do Itamaraty em 1952 para que o pintor e teórico francês André Lhote desse uma série de cursos que iam desde a ocupação por três meses do ateliê de Manoel e Haydéia Santiago, na Rua das Laranjeiras, número 34, até as salas da Escola Nacional de Belas Artes. A passagem de Lothe foi marcante para uma geração de artistas, marchands e críticos moradores do Rio de Janeiro.
Outra iniciativa importante nesse sentido foi o Curso de Desenho de Propaganda e Artes Gráficas, criado por Santa Rosa e oferecido na Fundação Getúlio Vargas desde 1946. Entre os saberes técnicos – e precursores do design e da publicidade – tinham também cursos como os de água-forte (com Carlos Oswald) e xilogravura com Axl Leskoscheck. Santa Rosa levava alunos para desenharem em locais como a favela do Humaitá (Morro de Santa Marta). A gravurista Fayga Ostrower foi uma das artistas que frequentaram as aulas e marcou esses passeios em sua obra do período.
Mas os cursos que realmente transformaram a paisagem das artes na cidade foram as aulas ministradas pelo Museu de Arte Moderna a partir de 1953. Ainda sem a sede definitiva no Aterro do Flamengo, o MAM já utilizava as dependências do IPASE na Rua Pedro Lessa, e depois o vigésimo-terceiro andar do Edifício Drake (rua Treze de Maio) até se transferir em 1958 para o Bloco Escola do museu. Dentre cursos como os de composição e análise crítica com Fayga Ostrower, ou de desenho estrutural e composição de Santa Rosa, ou o ateliê de gravura de 1959 com Jhonny Friedlaender e Edith Bhering, sem dúvida o que mais se destacou no período foi o trabalho educacional de Ivan Serpa.
Pintor do subúrbio carioca que teve parte de sua formação em cursos livres como os promovidos pela Colmeia de Pintores ou aulas com o já referido austríaco Axl Lekoscheck nas décadas de 1930 e 1940, Serpa já ministrava aulas desde as primeiríssimas atividades do MAM, ainda em 1949. Seu impacto como professor no conjunto de jovens artistas que frequentaram seus cursos gerou ações coletivas formadas quase exclusivamente por alunos, como o Grupo Frente, de 1954, e o desdobramento no Grupo Neoconcreto de 1959. Além de cursos periódicos, Serpa mantinha um Ateliê Livre, que funcionava aos sábados à tarde.
Outra prática didática de Serpa que marcaram época foram suas aulas para crianças no Ateliê Infantil. Transformando o espaço de ensino das artes em um campo lúdico, Serpa criou métodos baseados na liberdade criativa e na expressão. Em 1954, escreveu ao lado de Mário Pedrosa o livro Crescimento e Criação em que sintetizava suas formas de trabalho com tal público.