Confeitaria Carceller

A rua Direita (atual 1º de Março) foi a via mais importante do Rio até o século XIX. Era no porto do largo do Paço que desembarcavam as novidades da Europa e, por consequência, um comércio efervescente cresceu ali. Em meio às lojas de moda francesas, livrarias e artigos importados, as cafeterias e confeitarias se multiplicaram entre as ruas Direita e do Ouvidor, como a Carceller, uma das primeiras sorveterias do império.

Igreja da Ordem Terceira do Carmo, na antiga rua Direita, e o Boulevard Carceller. G. Leuzinger c. 1870

Essa confeitaria teria sido fundada em 1824, por José Tomás Carceller, e teve o auge de seu funcionamento nos anos 1860. O imperador D. Pedro II “tinha o costume, depois de visitar as igrejas na quinta-feira santa, de ir ao Carceller para tomar sorvetes, ali afamados. Estes eram servidos em forma de pirâmide, nuns pequenos cálices, e custava cada um 320 réis”1. Nessa época, o gelo utilizado para a fabricação dos sorvetes era importado dos Estados Unidos, o que deixava a iguaria bem cara.

Além do imperador, a Carceller era ponto de encontro de muitos jovens que se reuniam na confeitaria para degustar os pastéis, bolinhos e os famosos sorvetes, em meio a conversas animadas nas mesas e cadeiras colocadas do lado de fora da loja – costume dos bulevares parisienses, possivelmente introduzido no Rio pela Carceller.

Semana Ilustrada – 1866. Ed. 283 – Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

A obra de Machado de Assis é repleta de menções à confeitaria, desde as conversas sobre política de Valério, do conto de mesmo nome (1874), ao diário do protagonista de Memorial de Aires (1908). Políticos influentes do período também se encontravam na Carceller para debater assuntos, como a crise diplomática entre o Império do Brasil e o Reino Unido (Questão Christie, 1862-65) e, segundo
Heitor Lyra, por vezes, em frente à confeitaria, ​​”falara […] o Imperador ao povo, que o aclamara, da portinhola da carruagem que o conduzia ou trazia do Paço.”

A confeitaria ficava na rua Direita perto da rua do Ouvidor, tornando a região conhecida como Boulevard Carceller. Era dali que partiam os bondes puxados a burro com destino a São Cristóvão.

O Boulevard Carceller – autoria desconhecida

1 Cf. LYRA, 1939.

Referências bibliográficas:

HEMEROTECA Digital da BN. Semana Ilustrada (RJ) – 1865. Ed. 223, p. 2

LYRA, Heitor. História de Dom Pedro II – 1825-1891. Vol. 2 – Fastígio. Companhia Editora Nacional. São Paulo – Rio – Recife – Porto Alegre: 1939.

REVISTA do IPHAN, nº 10, 1946, pp. 193 e 295. Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=reviphan&pagfis=3448

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