Pintura Pop e política no Rio de Janeiro
Dentre as exposições coletivas que ocorriam no Museu de Arte Moderna e nas galerias que surgiam no Rio de Janeiro na década de 1960, quatro nomes residentes no Rio de Janeiro se destacaram como renovação da pintura e da arte brasileira. Os cariocas Rubens Gerchman e Roberto Magalhães, o paraibano Antonio Dias e o gaúcho Carlos Vergara foram artistas ativos em um período de transformações profundas no país. Em sua obra eclética incorporando pintura, escultura, gravura e desenho, a cidade do Rio de alguma forma se fez presente.
Alguns deles foram estudantes do Liceu de Artes e Ofício e da Escola Nacional de Belas Artes, outros travaram contatos como alunos ou ajudantes de mestres do porte de Iberê Camargo (caso de Carlos Vergara) e Oswaldo Goeldi (caso de Antônio Dias). Essa articulação entre gerações cria um diálogo com uma tradição de ateliês abertos e cursos livres que já vinha ocorrendo no Rio de Janeiro desde a década de 1940. Por serem jovens que surgem em um período de turbulências políticas, a visão crítica sobre o país – que também fez parte da arte modernista – era um desdobramento natural em seus trabalhos.
Com a participação dos quatro na famosa mostra coletiva Opinião 65, realizada no MAM-RJ em agosto de 1965, seus nomes se destacaram no meio artístico carioca e passaram a fazer parte de uma rede criativa que contava com cineastas do grupo do Cinema Novo (gestado em boa parte nas reuniões e sessões que ocorriam na cinemateca do Museu) e da música popular (principalmente o os jovens compositores baianos que criariam o Tropicalismo). O cineasta Antônio Carlos Fontoura chega a fazer em 1967 o filme Ver Ouvir, com Gerchman, Dias e Magalhães mostrando suas obras e performances dentre populares pelas ruas da cidade.
A arte dessa geração trouxe para suas obras uma visão pop e política sobre os temas e personagens do meio urbano carioca, as contradições sociais da cidade, seus tipos populares e seus dramas cotidianos. A violência e a cultura de massas em seu forte apelo gráfico – quadrinhos, caricaturas, televisão e futebol, por exemplo – são incorporados em obras chaves desse período. Talvez a mais emblemática, por ter virado inclusive música de Caetano Veloso, é a pintura A Bela Lindonéia, trabalho de Rubens Gerchman de 1966. O tema da violência doméstica contra as mulheres e o uso de elementos populares como o vidro bisotê mostra um olhar sobre as vidas ordinárias raramente comentadas nas artes visuais.
Vale ainda destacar, mesmo que não fosse parte ativa desse grupo, a importante obra do gaúcho Glauco Rodrigues, morador do Rio de Janeiro desde 1960. Seu trabalho de pintor, desenhista e gravurista foi o que mais utilizou a paisagem carioca como tema. Inserido tanto nas figurações políticas quanto no momento tropicalista, Glauco participa das principais exposições do período. Com breve passagem por Roma entre 1962 e 1965, sua obra articula a visualidade pop de cores quentes com uma reflexão crítica sobre a história colonial brasileira.