Um mar de morros

Rio de ladeiras
Civilização encruzilhada
Cada ribanceira é uma nação

Estação Derradeira. Canção de Chico Buarque

O Rio de Janeiro cresceu entre as águas da Baía de Guanabara e as do Oceano Atlântico, de um lado, e os morros que circundam a cidade, de outro. Depois foi se espalhando pelas várzeas e terras planas, seguindo cursos de antigos rios e circundando as elevações.

Maciço Gericinó-Mendanha. Foto: Luiz Morier. Wikiparques

Há três grandes maciços que circundam a cidade: Tijuca, Pedra Branca e Gericinó-Mendanha, e estes se desdobram em serras e montanhas. Nas encostas, havia matas e, nos meios das pedregosas descidas, serpenteavam córregos que viraram rios e umedeceram as terras baixas, formando lagunas e pântanos. Tudo isso assim foi um dia, e deixou marcas na paisagem. Esta geografia, em nada plana e simples de se lidar, exuberava e encantava, ao mesmo tempo em que desafiava a ocupação, em meio a tanta terra inundável na planície e morros inclinados. Ainda hoje, a presença de florestas urbanas marca a geografia da cidade, e é um respiro alcançável a partir de diferentes partes do Rio.

A cidade foi fundada entre dois morros: Cara de Cão e Pão de Açúcar, de frente para a baía, e do lado do rio que por sua vez deu nome aos seus habitantes. O rio Carioca, que tem seu nome derivado de uma aldeia indígena tupinambá (Karióg ou Kariók) que habitava a região do bairro da Glória atual, foi desde o início fonte de água limpa e as terras em torno da sua foz, objeto de disputa entre os invasores e os povos originários. Neste lugar, aos pés de um pequeno monte denominado outeiro, se travou a Batalha de Uruçumirim (1567), que definiu violentamente o destino de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Outeiro da Glória, onde se deu a Batalha de Uruçumirim no século XVI. Henry Chamberlain, 1821. Pinacoteca do estado de São Paulo

A partir do início do século XX, as encostas dos morros próximos ao centro da cidade foram ocupadas pela população que estava sendo expulsa das áreas planas pelas reformas urbanas — como a do Prefeito Pereira Passos, entre 1902 e 1906. A necessidade de estar perto dos locais de trabalho e de manter os vínculos de sociabilidade neste espaço, a falta de condições de arcar com os custos de uma moradia na parte plana das áreas centrais, moveu estas pessoas, em sua maioria negras, para as partes altas, de mais difícil acesso e assentamento.

Morro da Favela (atual Providência), na região central do Rio – uma das primeiras favelas do Brasil. Augusto Malta. MIS

As violentas mudanças no espaço urbano fizeram surgir as favelas, e assim foi produzida uma maneira de ocupação das áreas elevadas do Rio de Janeiro, que associou inclusive a expressão “morro” a este tipo de comunidade. Ainda que sejam lugares marcados pela desigualdade, precariedade, muitas vezes pela violência e reduzida presença do Estado com serviços para a cidadania, se reconhecem com uma identidade e história próprias, da qual muitos moradores se orgulham — pois, espelha sua resistência, força e beleza. Ser ‘cria’ de um morro do Rio é ter um lugar de pertencimento.  E, vale lembrar: a partir de muitos desses morros, se pode descortinar as vistas mais lindas do Oceano Atlântico e da Baía de Guanabara. O Rio Atlântico também é da favela.

Comunidade do Vidigal, Rio de Janeiro. Imagem: Catalytic Communities/Flickr

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