Teatro João Caetano
O Teatro João Caetano, localizado na Praça Tiradentes, é o mais antigo palco de espetáculos do Rio de Janeiro. Foi inaugurado em 1813 com o nome de Real Theatro de São João, em homenagem a seu fundador, Dom João VI. No século XIX, quando o Rio de Janeiro se tornou a capital do Império português, as elites puseram em prática suas pretensões de fazer do Rio uma cidade europeia. Dentre os planos, um teatro para as sessões de ópera. Vale dizer que o teatro já era uma atividade desenvolvida na cidade desde o período colonial, como ferramenta importante de educação e informação para uma população de maioria analfabeta, mas não havia um “teatro decente”, como requeria a corte real — o que mudou em 1813.
Pintura de Debret, c. 1834. Brasiliana Fotográfica.
A cidade ganhava marcos que projetavam a sofisticação e o refinamento desejados para a nova sede da corte. O teatro foi essencial nesse contexto, pois se transformou em um ponto de encontro da elite e das pessoas influentes da época, que ali desfilavam em noites de gala e eventos importantes, frequentando o espaço para verem e serem vistos. Assim, o teatro passou a ser palco não apenas de espetáculos, mas também do intenso jogo de poder e influência da época.
Em 1821, o então príncipe Dom Pedro se dirigiu ao povo na sacada do teatro, em um gesto simbólico de apoio às exigências do povo pela aceitação das bases constitucionais portuguesas. O uso da sacada para anúncios e declarações oficiais transformou o teatro em um espaço de representação política e encontro entre o povo e a realeza, o que marcou seu papel na história do país.
Teatro São Pedro. Marc Ferrez, c.1870 . Praça Tiradentes, Rio de Janeiro. Coleção Mestres do século XIX. Acervo IMS.
Nos anos da Independência, a decoração e os temas das apresentações também refletiam os ideais da época. Na alegoria da formação nacional, encomendada por Dom Pedro I, Jean-Baptiste Debret desenhou um novo pano de boca, substituindo o antigo cenário português por uma visão idealizada do Brasil: indígenas, negros, brancos e mestiços, além de uma figura feminina representando o Império, frutas tropicais e uma mata exuberante. O teatro se tornava, assim, uma vitrine da nova brasilidade em construção, ajudando a consolidar o imaginário do Império brasileiro.
Ao longo dos anos, o Teatro de São João passou por várias transformações. Em 1826, ganhou o nome de “Imperial Theatro São Pedro de Alcântara” para homenagear Dom Pedro I. Anos depois, com a abdicação do imperador, foi chamado de Theatro Constitucional Fluminense (1831-1839), refletindo as mudanças políticas. Com o tempo, o edifício sofreu com incêndios e reformas até ser reconstruído no século XX. Em 1930, foi renomeado Teatro João Caetano, em homenagem ao famoso ator brasileiro do século XIX, que fez desse espaço seu palco de estreia e contribuiu para sua restauração após incêndios que destruíram a estrutura original várias vezes.
Praça Tiradentes, Teatro São Caetano. Augusto Malta, c.1930. Coleção Gilberto Ferrez. Acervo IMS.
Hoje, o Teatro João Caetano segue sendo um marco da cultura carioca, conhecido por sua capacidade de receber apresentações de variados gêneros e por suas instalações completas, que incluem palco, plateia com três níveis e camarins. Mesmo após mais de dois séculos, o teatro continua vivo, testemunha e protagonista das transformações do Brasil desde os tempos coloniais. Com uma estátua do ator João Caetano à sua entrada, a construção não apenas relembra sua importância na história do teatro brasileiro, mas também sua relevância como símbolo cultural e histórico da cidade.
Estátua em frente ao Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes. Rio de Janeiro, 1972. Arquivo Nacional. Fundo Correio da Manhã.