Real Gabinete Português de Leitura

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O Real Gabinete Português de Leitura é um dos mais importantes símbolos da presença portuguesa no Rio de Janeiro e um dos maiores acervos de obras literárias de autores portugueses fora de Portugal. Fundado em 14 de maio de 1837 por um grupo de 43 imigrantes portugueses, o Gabinete teve como principal objetivo criar um espaço de leitura e de difusão cultural para a comunidade lusitana na então capital do Império do Brasil. Era uma forma desses imigrantes manterem vivas suas tradições culturais e literárias em território brasileiro.

Reprodução

Além de ser um marco cultural na cidade, o Gabinete reflete a influência de correntes ideológicas que moldaram a sociedade brasileira no século XIX, em particular a maçonaria e o pensamento republicano positivista. Essas correntes deixaram sua marca na formação de instituições culturais e literárias, como o então Gabinete Português de Leitura, que se tornou um ponto de convergência para as elites intelectuais e políticas da época.

Inicialmente, o grupo reunia-se na casa do advogado António José Coelho Louzada, na rua Direita — atual Primeiro de Março. Depois de ocupar a rua de São Pedro e a rua da Quitanda, as comemorações da morte do tricentenário de Luís de Camões serviram de impulso para que o grupo buscasse uma sede maior, comprando um prédio na antiga rua da Lampadosa, hoje rua Luís de Camões. A construção do edifício foi iniciada em 1880, com projeto do arquiteto português Rafael da Silva e Castro, e sua inauguração ocorreu em 1888. 

Na imagem, fachada da sede do Gabinete Português de Leitura, final do século XIX. Arquivo Nacional. Coleção Fotografias Avulsas.

A arquitetura do prédio é no estilo neomanuelino, que combina formas robustas e dinâmicas com curvas fluidas, inspirado na flora marítima e na náutica da era dos descobrimentos. A fachada conta com arcos ogivais e as esculturas de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Infante D. Henrique e Luís de Camões. No interior, quatro medalhões representam Fernão Lopes, Gil Vicente, Alexandre Herculano e Almeida Garrett.

Reprodução Real Gabinete Português de Leitura

O acervo inicial, composto por doações dos próprios fundadores, cresceu ao longo do tempo, incorporando obras raras e valiosas, incluindo primeiras edições de clássicos da literatura portuguesa — como “Os Lusíadas”, de Camões, e o “Dicionário da Língua Tupy”, de Gonçalves Dias, dentre outros documentos históricos.

Reprodução Real Gabinete Português de Leitura

Ao longo do século XX, o Real Gabinete Português de Leitura consolidou-se como um importante centro de pesquisa e preservação da memória literária e histórica de Portugal e do Brasil. O prédio passou por diversas reformas e modernizações, preservando, contudo, sua rica arquitetura original. Em 1900, o Gabinete Português de Leitura se tornou uma biblioteca pública, possibilitando que qualquer pessoa pudesse acessar seus livros e, em 1906, o então rei de Portugal, D. Carlos, concedeu o título de “Real” ao Gabinete.

Reprodução Real Gabinete Português de Leitura

Em 1935, a instituição foi reconhecida como uma entidade de utilidade pública, reforçando seu papel como guardiã de um acervo que hoje ultrapassa os 350 mil volumes, entre livros, manuscritos e periódicos.

Real Gabinete Português de Leitura, na rua Luís de Camões. À direita os fundos da Escola Politécnica, atual IFCS UFRJ. Marc Ferrez, 1887. Acervo IMS.

O Real Gabinete Português de Leitura continua sendo um ponto de encontro para estudiosos e amantes da literatura, recebendo diariamente visitantes que desejam explorar sua vasta coleção ou simplesmente admirar a beleza do edifício.

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