Revolta da Cachaça

A bebida alcoólica que, ainda hoje, adoça paladares e mesas de botequins Rio afora, já foi o ingrediente principal de um dos levantes mais inusitados do Brasil Colônia. Do final de 1660 ao início de 1661, os produtores de cana-de-açúcar fluminenses se rebelaram contra o governo em defesa da aguardente, no episódio que entrou para a história como a Revolta da Cachaça.

O furdunço teve início com a rigorosa política fiscal praticada pelo governador da capitania, Salvador Correia de Sá e Benevides. Em um de seus decretos, ele proibia a fabricação de cachaça e limitava a sua exportação. A decisão revoltou os fazendeiros locais, que tinham na destilação da aguardente uma solução para o escoamento do açúcar – de qualidade inferior em relação ao produzido por outras capitanias.

Salvador Correia de Sá e Benevides (1602-1688) – português que exerceu cargo de governador da capitania do Rio de Janeiro e de Angola. Litografia de Manuel Luís, 1841. Wikimedia Commons

Sá e Benevides exercia o terceiro mandato como governador quando passou a ser acusado de corrupção e tirania. Em novembro de 1660, ele estava fora da capitani, quando um grupo de senhores de engenho se rebelou. Liderados por Jerônimo Barbalho, os fazendeiros se aproveitaram da instabilidade política na região e se mantiveram no poder por cinco meses. À Coroa portuguesa diziam querer estabelecer condições justas e dignas para poderem continuar servindo à metrópole.

Mas em 6 de abril de 1661, o curto governo dos senhores de engenho chegou ao fim. Sá e Benevides – impedido de voltar ao Rio durante o movimento – regressou em um ataque surpresa, deixando os revoltosos sem ação. De volta ao posto de governador, ele mandou decapitar Jerônimo Barbalho para servir de exemplo à população.

Mesmo condenados à prisão na capitania, os demais rebeldes foram levados a Portugal para julgamento, onde lhes foi garantida a liberdade. No entendimento do Conselho Ultramarino, não houve crime contra a Coroa, uma vez que a revolta havia sido contra a política fiscal praticada pelo governador – que acabou afastado por ordens da metrópole.

No mesmo ano, a produção da cachaça na colônia foi liberada.

Mapa da baía de Guanabara em 1640. João Teixeira Albernaz – Atlas manuscrito colorido. Descrição de todo o marítimo da Terra
de S. Crvs, chamado vulgarmente, o Brazil.

Este texto foi elaborado pela pesquisadora Júlia Kern Castro do Projeto República (UFMG).

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