Praias e Costões da Baía de Guanabara
As praias e costões da Baía de Guanabara, situados dentro dos limites do município do Rio de Janeiro, conformam um território costeiro profundamente marcado tanto pela sua geodinâmica natural quanto pelos efeitos da urbanização e da ocupação histórica da cidade. Estendem-se desde a Urca, no sopé do Pão de Açúcar, até a Zona Norte, na altura de Ramos e do Complexo da Maré, desenhando uma borda litorânea que combina trechos rochosos, enseadas, praias arenosas e áreas de restinga e manguezal residual.
Na entrada da Baía de Guanabara, as praias da Urca, Vermelha e do Leme se apoiam sobre costões graníticos-gnáissicos associados à extremidade das formações isoladas do Maciço da Tijuca, apresentando falésias vivas e vertentes abruptas, onde o embasamento cristalino aflora em paredões e escarpas. São praias de pequeno porte, com areias grossas e ondulação controlada pela proteção natural do relevo. Nessa região, os costões da Urca e do Pão de Açúcar configuram paisagens emblemáticas, onde os imponentes penedos se debruçam diretamente sobre o mar, formando ecossistemas costeiros ricos em biodiversidade.
Avançando para dentro da baía, surgem enseadas de menor energia, como a praia do Flamengo e a praia de Botafogo, moldadas por aterros e obras de urbanização ao longo do século XX. Nesses trechos, a linha de costa foi artificialmente modificada, e as praias são protegidas por estruturas de contenção, canais e parques urbanos, como o Aterro do Flamengo. Embora banhadas por águas da baía, suas características naturais foram fortemente alteradas, tanto em morfologia quanto em qualidade ambiental.
A partir desse ponto, as modificações no litoral do Centro do Rio foram muito contundentes ao longo da história desconfigurando brutalmente a enseada da Glória, da Praia de Santa Luzia, no sopé do extinto Morro do Castelo, até a antigo Ponta do Calabouço, hoje completamente modificada sob as feições da Marina da Glória e Aeroporto Santos Dumont. Seguindo para o Centro, a Praia da Praça XV foi, logo nos primeiros anos de colonização, transformada em área portuária, vivendo uma sequência de aterramentos com o intuito de avançar o arco de praia constituído entre o Morro do Castelo e o Morro de São Bento avançasse sobre o mar. A praia aí constituída sumiu, deixando como monumento, apenas o saudoso Chafariz do Mestre Valentim, na antiga beira do cais, construído para posto de abastecimento d’água dos barcos e navios da época.
Do Morro de São Bento até a Ponta do Caju, as praias foram completamente modificadas dando origem a atual Região Portuária. Prainha de São Francisco, praia da Saúde, praia da Gamboa, Saco de São Diogo, praia de São Cristóvão até os pequenos mangues de Manguinhos, a sequência de arcos de praia e promontórios rochosos foi retilinizada pelos atuais berços de grandes navios do Porto do Rio. O Saco de Inhaúma aterrado e o Complexo da Maré soterrado, deixam apenas fotografias do tempo em que as águas matinhas dominavam a paisagem costeira do litoral guanabarino.

Praia de Ramos e Piscinão de Ramos no pôr do sol atras do Maciço do Mendanha. Ao lado esquerdo no fundo, a silhueta do Maciço da Pedra Branca.
Logo a norte, o Piscinão de Ramos, oficialmente chamado de Parque Ambiental da Praia de Ramos, se apresenta sobre o antigo arco de praia, como uma estrutura artificial construída na década de 2000 à beira da Baía de Guanabara, como alternativa de lazer para a população local diante da poluição das águas costeiras. Com uma grande piscina de água salgada tratada e faixa de areia artificial, o espaço simula uma praia urbana e tornou-se símbolo tanto de inclusão social quanto das contradições ambientais da cidade. Localizado em uma área antes marcada pelos alvoroçados verões da Praia de Ramos, entre mergulhos e flashes, o piscinão representa uma tentativa de reconciliação entre a urbanização intensa da periferia carioca e o acesso à orla, embora conviva com os desafios da manutenção, da balneabilidade e da infraestrutura urbana no entorno.
Mais ao norte, no entorno da Ilha do Governador, a paisagem litorânea passa a ser dominada por praias de baixa energia sob as águas calmas do interior da baía e costões menos acentuados, como as praias da Bica, do Dendê, Pitangueiras, Bandeira e Cocotá, que historicamente perderam sua balneabilidade e atividade pesqueira para a poluição. A falta de saneamento e a podridão a que conduzimos as águas da Guanabara impactou profundamente a economia e a qualidade de vida dos moradores da ilha, mas ainda assim é possível observar resquícios de ambientes costeiros originais com exuberante beleza cênica.

Praia da Engenhoca, com a Paróquia Sagrada Familia e a Ilha da D’água em frente

Praia da Rosa, litoral Norte da ilha do Governador

Praia do Bananal, ao lado da Praia da Guanabara, onde fica a Pedra da Onça
E, claro, não podemos esquecer os desenhos ainda preservados das linhas de costa da Ilha de Paquetá, onde a história, poesia e literatura misturam-se à bucólica paisagem das pontas pedregosas e praias de areias finas ao fundo da Baía de Guanabara. Da praia de Iracema a praia do Catimbau, da praia dos Tamoios a praia da Moreninha, diversas pontas de pedra recortam tímidos arcos de praia, criando um emaranhado de tocas e habitats para flora terrestre e fauna marinha em intrincada complexidade ecossistêmica. Complexidade essa que certamente alimentou com extrema abundância a vida de povos originários que disputavam seus recursos, antes da chegada de europeus nessas águas. Hoje a beleza cênica de Paquetá continua, quando as marés não são assoladas de lixo sólido flutuante ou mesmo pelo mau cheiro do esgoto não tratado e despejado nas águas costeiras.

Iemanjá na Praia da Guanabara, Ilha do Governador
Ao longo do tempo, a linha costeira da Baía de Guanabara no município foi intensamente remodelada, tanto por aterros quanto pela construção de portos, vias expressas e áreas industriais, alterando a dinâmica sedimentar e o regime de marés. Apesar disso, os costões rochosos remanescentes, mantêm viva a relação entre o relevo do embasamento cristalino e o ambiente marinho, compondo uma paisagem de forte valor geográfico, ecológico e simbólico.