Os temiminós

Mapa de Luís Teixeira Albernaz (1574), onde é possível ver a localização da aldeia de Arariboia (“Aldea de Martinho”) nos primeiros anos pós-conquista da Guanabara

O termo “temiminós” aparece nas fontes históricas apenas em 1568, um ano após as batalhas de Uruçumirim e Paranapucu – das quais eles, e seus aliados portugueses, saíram vitoriosos. Em uma carta do chefe dos temiminós, Arariboia, endereçada a Mem de Sá, consta a petição de terras que fazia ao governador-geral pelos serviços prestados na conquista do Rio de Janeiro. O documento chamado “Carta de sesmaria de Martim Afonso de Sousa”, onde constam a “petição” de Arariboia e o “translado de regimento (das terras)” assinado por Mem de Sá, consta que Arariboia teria ele mesmo ditado ao escrivão, Pedro da Costa, que era, “um dos principais homens do gênero temiminó”, e por que havia de merecer aquela sesmaria. A partir deste documento o termo irá se espalhar por documentos e livros de História.

Os temiminós estiveram presentes em ações e momentos decisivos da História: na construção dos fortes e na defesa da cidade, atuaram nas expedições de entradas e bandeiras do século seguinte a partir do Rio de Janeiro, e por serem o último recurso bélico contra revoltas, atuaram até mesmo nas guerras luso-holandesas do Nordeste.

Martim Afonso de Sousa, o Arariboia – gravura presente na enciclopédia “O Brasil Histórico” (n. 1, v. I, 1866)

O significado do termo “temiminó” em tupi antigo é claramente uma oposição à designação de “tamoio”. Enquanto os que combatiam os lusos se denominavam os “avós”, os indígenas aliados ficaram conhecidos como “temiminós”, ou seja, os “netos”. O contraste dos termos (“velhos”/“tamoios” x “novos”/ “temiminós”) caracterizou esses povos num contexto de guerra, em que as antigas acepções gerais de “tupinambá” já não faziam mais sentido.

Os temiminós eram, sobretudo, os maracajás da Ilha do Governador, acrescidos de outros indivíduos que, ao longo do processo de conquista da Guanabara, se juntaram ao grupo de indígenas aliados dos lusos. Ao fim dos conflitos, aquela unidade indígena constituída nas batalhas acaba por se autodeterminar, em antagonismo aos tamoios combatidos, em uma identidade “temiminó”.

A morte de Estácio de Sá por Antonio Parreiras (óleo de 1911) – na pintura, o líder dos temiminós, Arariboia, é representado como a figura central

Ou seja, os termos “tamoio” e “temiminó” não faziam parte do vocabulário tupinambá antes da chegada dos europeus. Os variados clãs tinham suas próprias identidades dentro do espectro geral da nação “tupinambá” sem uma designação específica. As diferenças entre os tupis são evidentes nos estudos das tabas da Guanabara pré-colonial. A partir do momento que esse grupo heterogêneo precisou escolher o lado europeu ao qual iria se aliar no contexto de disputa colonial, duas opções se mostraram para os diversos grupos tupinambás da Guanabara: tamoio ou temiminó. Vencedores, ao lado dos portugueses, os temiminós triunfaram.

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