Tupinambás

Caciques tupinambás emplumados – gravura da obra de Hans Staden, 1557

Mitos ancestrais são comuns às civilizações. No Rio originário, foram os descendentes de Tupi que prevaleceram, sendo que o termo “tupi” designava o ancestral mítico do qual descenderia toda a gente do Brasil.

Os tupinambás – “tupi + anam/a + mbá” – algo equivalente a “todos da família dos tupis”, também associado à “nação tupi” – formavam uma das etnias mais importantes do povo tupi. Tinham populosas comunidades desde o Cabo de São Tomé, no Rio de Janeiro, até a praia de São Sebastião, no litoral de São Paulo, onde floresceram comunidades que viviam da pesca na foz dos rios e da variedade da fauna e da flora da Mata Atlântica de quinhentos anos atrás. Também plantavam mandioca e outras culturas, que deixava-os em ampla vantagem frente a povos mais coletores e caçadores.

A estrutura de uma aldeia tupinambá – gravura da obra de Hans Staden, 1557

Concentravam-se principalmente na Guanabara, com mais de oitenta tabas documentadas em registros históricos. A partir da margem onde surgiu a cidade do Rio de Janeiro, pelo menos vinte comunidades se espalhavam pelas enseadas do litoral, com grandes populações na Ilha do Governador e no interior, nas atuais Zona Norte e Oeste da cidade. Também existiam tabas por toda a Baixada Fluminense até as cabeceiras do rio Paraíba do Sul, onde tupinambás coabitavam com outros tupis e demais etnias indígenas do litoral e interior de São Paulo.

A hipótese mais aceita é que os tupinambá chegaram à Guanabara pelo menos 2 mil anos antes dos portugueses. Vieram em levas descendo pelo litoral, guerreando e migrando desde o interior da Amazônia em busca de um “Guajupiá”, um lugar ideal para se viver. Tinham espírito guerreiro, e predominavam nas principais baías do litoral brasileiro: Guanabara, Angra dos Reis, Todos os Santos e São Marcos. Seus maiores inimigos eram os goitacás, que viviam na Serra do Mar e nas planícies de Campos, no estado do Rio. 

Embora compartilhando as mesmas raízes históricas, culturais e ancestrais, as diversas linhagens ou clãs familiares tupinambás também podiam guerrear entre si pelos mais diversos motivos. Ataques e sequestros intertribais faziam parte do seu modo de vida social e eram condição para que homens se tornassem líderes. A prática de rituais antropofágicos com o inimigo capturado era o rito de passagem dos jovens guerreiros para a categoria dos “homens de verdade”. Os confrontos tinham o intuito de realizar vinganças passadas de geração em geração. Havia um estado permanente de guerra, intrincado em sua cultura social e religiosa.

O poder político era exercido pelo conselho de anciões da taba, em que os mais velhos e experientes decidiam o que fazer durante fumagens coletivas, sendo o poder de mobilização e ação exercido por um morubixaba (um “chefe de gente”), um notório guerreiro com mais de 40 anos de idade. Foi no período da guerra de conquista colonial que eles se dividiram em facções e outros nomes surgiram em documentos históricos tais como tamoios, maracajás e temiminós.

Ataque a Bertioga: guerra de canoas entre tamoios e tupiniquins – gravura da obra de Hans Staden, 1557

Na obra Viagem à Terra do Brasil, fonte primária da história do Rio de Janeiro, o protestante Jean de Léry, que esteve na Guanabara em 1557, utiliza um único termo, “tououpinambaoults”, no original em francês, para designar o povo que aqui vivia antes da fundação da cidade de São Sebastião. “Encontramos na Praia Grande número de selvagens chamados tupinambás”, diz ele.

Era o povo tupinambá o “dono” das terras da Guanabara e, tal qual os outros povos originários pré-colombianos das Américas, construíram também uma civilização com características próprias e adaptada ao meio onde habitavam. Os cronistas franceses anotaram comunidades superpovoadas com milhares de pessoas, muitas onde hoje estão diversos bairros do Rio de Janeiro. Eles são os cariocas originários, jazem em milhares de urnas funerárias sob o chão da cidade e permanecem vivos em nossa ancestralidade.

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