Os tamoios

Em 1554, um mercenário alemão chamado Hans Staden presenciou uma reunião de líderes “tamoios” na aldeia do rio Ariró, localidade da baía de Angra dos Reis. Havia dezenas de chefes indígenas reunidos – dentre eles, o notório Cunhambebe – em busca de informações sobre as movimentações de seus inimigos lusitanos, os “perós”, com o recém-capturado europeu, que também era artilheiro do forte de Bertioga. Este forte havia sido construído justamente para barrar o avanço dos tupinambás sobre os portugueses de São Vicente. Essa reunião de líderes é emblemática e revela o grau de organização dos indígenas na tentativa de se protegerem da ameaça escravagista e territorial que enfrentavam pelo menos desde meados da década de 1530. 

A confrontação de Cunhambebe a Hans Staden – gravura da obra de Hans Staden, 1557

O movimento de resistência tupinambá contra a dominação portuguesa começou após a expedição de Martim Afonso de Sousa que, em 1531, visitou a Guanabara e passou quase três meses junto aos tupinambás. As muitas tabas da região ajudaram os portugueses a reabastecer as naus e a empreender uma expedição, cruzando o interior daquelas terras em busca de ouro e prata. Relatos da corte portuguesa apontam uma aliança entre Martim Afonso e os tupinambás do Rio de Janeiro. Contudo, o português decidiu aplicar o projeto colonial numa zona vizinha do litoral brasileiro, em São Vicente (atual estado de São Paulo). Essa região era dominada pelos tupiniquins, então inimigos dos tupinambás, e será essa relação, entre lusos e tupiniquins, que vai desencadear a resistência dos chamados “tamoios” aos portugueses.  

O termo tupi “tamüîa” é como os tupinambás designavam “os avós”, “antepassados”, no sentido de serem os representantes dos “mais velhos” ou dos “primeiros” donos daquelas terras. Eles lutavam em honra de seus antepassados. O termo parece ter sido um grito de guerra e, talvez por isso, palavra aportuguesada “tamoyos” aparece nos registros históricos para identificar todos os grupos indígenas tupis que se organizaram para combater os portugueses no litoral do Rio de Janeiro.

Cunhambebe, morubixaba-uaçu dos tamoios – gravura da obra de André Thevet

Com a chegada da expedição de Nicolas Villegagnon a Guanabara, em 1555, os “tamoios” teceram alianças com os franceses – adquirindo melhores armas e ferramentas, feitas de ferro –, mas igualmente fundamental foram os elos e estratégias das tabas entre si, que permitiram empreender grandes ataques às vilas de São Vicente e Piratininga entre 1560 e 1563. Essa frente indígena ficou conhecido na história como Confederação dos Tamoios.

A Confederação dos Tamoios gerou uma situação crítica aos portugueses e pôs em risco a colonização em São Vicente. Há registros sobre a precariedade pela qual passavam, pedidos de ajuda e ameaças de abandono da região. É nesse contexto que, em 1563, os padres jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega se oferecem para buscar uma trégua com os “tamoios” em Iperoig (atual Ubatuba). Nessa reunião, o líder Aimberê foi chamado da Guanabara para firmar um armistício, que permitiu a liberação de escravizados em São Vicente.

Batalha das canoas entre tamoios e maracajás – da obra de Jean de Léry

Ao contrário das promessas de pacificação dos padres, a “Paz de Iperoig” durou apenas o tempo necessário para reorganização das forças portuguesas, que partiriam em expedição comandada por Estácio de Sá com o intuito de derrotar os “tamoios” e fundar a cidade do Rio de Janeiro. O que só aconteceu no ano de 1567, após as batalhas de Uruçumirim, no atual Outeiro da Glória, e de Paranapucu, na Ilha do Governador, quando os tamoios foram derrotados. 

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