O morro Cara de Cão e a ocupação do território
O século XVI já ia pela metade e, na Europa, as guerras religiosas faziam muitas vítimas. A confusão era grande, com perseguições e desconfianças por toda parte. Esse clima de incertezas acabou por abrir novas possibilidades. A ideia de uma república imaginária governada pela razão, que contrastava com a realidade cheia de conflitos da política europeia da época, é descrita por Thomas Morus no livro A Utopia, publicado em 1516. A realização desse sonho combinava com toda a mítica do Novo Mundo, ideia que embalou o comandante francês Villegagnon, assim como os projetos dos portugueses que aqui aportaram.
Mem de Sá — terceiro governador-geral do Brasil e irmão do poeta português renascentista Sá de Miranda — e Villegagnon escolheram a Baía da Guanabara para fundar suas cidades imaginadas: o francês queria criar Henriville, em homenagem ao rei da França, Henrique II. O português chegou com a missão de fundar a cidade São Sebastião do Rio de Janeiro, também em homenagem a seu rei, Dom Sebastião.
Villegagnon construiu Henriville na Enseada do Flamengo, próximo à Aguada dos Marinheiros (ou foz do rio Carioca), por volta de 1556 — um aldeamento que nunca chegou a se tornar uma cidade estruturada, embora tenham sido construídas algumas casas, praças, um refeitório comum, uma igreja e um forte para a segurança, o Forte Coligny.
Coube a Estácio de Sá, sobrinho do governador geral, fundar o núcleo português na Guanabara em 1565, nas bordas do Morro Cara de Cão. Sua cidade surgiria completa, com igreja e habitações, as autoridades todas nomeadas e com uma légua e meia de terra doada aos colonos. O rito fundador foi concluído pela concessão de sesmarias aos jesuítas e aos povoadores. Assim nasceu a cidade que foi pensada como projeto futuro, como uma cidade ideal que se concretizaria no porvir.