No balanceio do samba e do choro
Pode ser na Pedra do Sal ou na rua do Ouvidor. No Quadrilátero da Cerveja, em Vila Isabel, ou na praça Ramos Figueira, em Olaria. Pode ser na praça Tiradentes ou na São Salvador. No Bip-Bip, em Copacabana – bar minúsculo que respira música e onde os “shhiiis” de repreensão de Alfredinho (dono do bar que faleceu no sábado de carnaval de 2019) deixaram enorme saudade – ou no badalado Fuska Bar, no Humaitá. Pode ser numa feira livre, num fim de tarde; ou na beira da praia, na areia, no quiosque, no calçadão. Pode ser em qualquer esquina: uma das graças das rodas cariocas de samba e chorinho é justamente seu teor de surpresa ou acaso, o ritmo irrompendo de repente em meio à paisagem, ou o gosto de ir a algum lugar onde se sabe que vai ter música, sem, no entanto, saber quem vai tocar, qual o repertório ou o tom da ocasião.
O samba é uma invenção carioca que tem suas raízes no continente africano. O chorinho, outro nativo do Rio, também bebeu em gêneros musicais de alhures. Mas os caminhos que formam um e outro, os desvãos e esquinas por onde pulsam são um emaranhado feito de acaso e congraçamento, encontros e a graça do improviso. Coro de vozes e palmas em torno de agogôs, pandeiros, tamborins, instrumentos de sopro ou corda. Ensaios de blocos de rua. Grupos circulando por pontos turísticos, entoando canções manjadas para angariar a simpatia dos turistas. Sambistas renomados dando canja em rodas improvisadas aqui e acolá, quando menos se espera. No samba e no choro, o inusitado é nota certa.