Mirante do Leblon / Av. Niemeyer
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A Avenida Niemeyer é uma das mais icônicas do Rio de Janeiro, não só por sua vista deslumbrante, mas também por seu papel na infraestrutura da cidade. A via foi concebida ainda no final do século XIX, como parte de um projeto ferroviário que conectaria Botafogo a Angra dos Reis. O projeto original começou em 1891, com a proposta de esculpir uma passagem nas encostas dos morros. Contudo, as condições geográficas desafiadoras e os escassos recursos financeiros impediram o avanço da obra por cerca de duas décadas.
O plano foi retomado no início do século XX, desta vez como uma estrada voltada para automóveis. Inaugurada em 20 de outubro de 1916, a via recebeu o nome do comendador Conrado Jacob Niemeyer, que financiou sua construção.

Vista da Avenida Niemeyer, Rio de Janeiro, década de 1920. Arquivo Nacional. Fundo Fotografias Avulsas
Logo na sequência de sua inauguração, a Niemeyer passou por melhorias para a visita do rei Alberto I da Bélgica, e ganhou dois pontos de referência. Um viaduto batizado em homenagem ao monarca foi construído, juntamente com a “Gruta da Imprensa”. Inaugurada em 1920, dias antes da visita dos reis da Bélgica ao Brasil, a gruta teria sido uma homenagem à imprensa carioca feita pelo prefeito Carlos Sampaio, conforme reportagens do Correio da Manhã e O Globo. Trata-se de uma gigantesca laje natural que se projeta no oceano, formando uma gruta acessível por escadaria com balaustrada, onde o mar irrompe com força mas sem risco, com o dístico “Gruta da Imprensa” fixado em cimento na entrada.

Ali também ficava os jornalistas que cobriam as corridas automobilísticas dos anos 1930, quando multidões iam assistir às “baratinhas” correrem no “Circuito da Gávea”, apelidado de “Trampolim do Diabo” devido aos muitos acidentes — alguns fatais, como o que vitimou o campeão Irineu Corrêa, em 1935.
Nas décadas de 1970 e 1980, a avenida ficou associada a outro ícone: o motel Vip’s, considerado o mais famoso do Brasil. Sua localização privilegiada virou lenda. Segundo o embaixador Marcos de Azambuja: “O Vip’s era simplesmente o melhor motel do mundo. Digo isso sem medo de refutação e apoiado no mais confiável registro: o da minha lembrança de noites muito distantes, quando o Rio de Janeiro era também a melhor cidade que podia existir. A posição do edifício era irretocável. Ficava em frente ao mar e contra a mata, de tal modo que os fregueses não eram vistos nem viam ninguém”.
Mas a avenida também carrega memórias trágicas, como o assassinato da jovem Cláudia Lessin Rodrigues, em 1977, e o desabamento do trecho da Ciclovia Tim Maia, em 2016, causando a morte do engenheiro Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 anos, e de Ronaldo Severino da Silva, de 60 anos. Deslizamentos, especialmente no período das chuvas, também deixaram marcas dolorosas ao longo das décadas.

No começo da Avenida Niemeyer, o Mirante do Leblon é um ponto turístico conhecido por suas vistas panorâmicas da orla de Ipanema e Leblon. A área era conhecida como Ponta do Leblon no século XIX, usada principalmente para pesca, antes de se tornar ponto de contemplação pela vista privilegiada. Em 2007 foi oficialmente batizado como Mirante Hans Stern em homenagem ao joalheiro teuto-brasileiro.
Ao longo de seus 4,76 km, a avenida Niemeyer também se tornou símbolo de contrastes, já que ela conecta bairros de alto padrão monetário, como o Leblon, a comunidades como o Vidigal e a Rocinha, estabelecendo um elo geográfico e cultural entre diferentes realidades sociais do Rio de Janeiro. A Niemeyer é, talvez, uma espécie de retrato do próprio Rio: um símbolo dos contrastes e encontros que fazem da cidade o que ela é: complexa, bela e cheia de histórias.

Reprodução site Tourb

