Estátua Floriano Peixoto
Antes de se popularizar como “Cinelândia”, como ficou conhecida a partir da década de 1930, o largo onde por anos funcionou um complexo de cinemas de rua era conhecido pelo seu nome oficial: Praça Floriano Peixoto. Inaugurada na ocasião das grandes obras promovidas pelo prefeito Pereira Passos, a praça recebeu, em 1910, uma grande estátua que sacramentou o tributo ao segundo presidente da República, o Marechal Floriano Peixoto — que governou o Brasil de 1891 a 1894.
Monumento a Marechal Floriano. Marc Ferrez, 1915. Coleção Gilberto Ferrez. Instituto Moreira Salles.
A construção do monumento foi impulsionada por um concurso público, realizado em 1904 pela Comissão Glorificadora do Marechal Floriano Peixoto. O concurso, presidido pelo Major Agostinho Raimundo Gomes de Castro, exigia que os participantes fossem brasileiros e alinhados aos princípios positivistas e florianistas. Embora Floriano Peixoto não fosse um positivista convicto, sua imagem de “Consolidador da República” aproximou os florianistas da doutrina positivista, que também defendia uma administração forte e moralista.
Inaugurada em 21 de abril de 1910 — aniversário da morte de Tiradentes, alçado à condição de mártir e herói pátrio pelo governo republicano —, a obra foi projetada pelo pintor Eduardo Sá, vencedor do concurso público, e construída em Paris. O monumento possui uma alta coluna central em formato de agulha, feita de granito nacional, com detalhes em alto relevo que representam colaboradores de Floriano na empreitada da República: general Gomes Carneiro, almirante Jerônimo Gonçalves, general Fonseca Ramos e Júlio de Castilhos.
Somada a altura da estátua com a coluna, o monumento tem 17 metros. A estátua foi concebida como uma alegoria patriótica, exaltando não apenas a imagem de Floriano, mas principalmente a República, instaurada há duas décadas e ainda em processo de afirmação
Monumento a Marechal Floriano. Marc Ferrez, c.1910. Coleção Gilberto Ferrez. Instituto Moreira Salles.
Na parte superior do monumento, há uma figura feminina oferecendo uma flor. A figura feminina simboliza a República, enquanto a flor representa, a fraternidade, o futuro da nação e a esperança de progresso. Essa figura é representada saindo de uma bandeira nacional, ao lado de figuras importantes da história republicana: José Bonifácio, Tiradentes e Benjamin Constant. Crianças atrás da bandeira representam as futuras gerações.
Reprodução Prefeitura Rio
Na base, estão gravadas datas importantes para a história brasileira, como o “descobrimento” e a independência. Além disso, há também a gravação das seguintes frases: “A sã política é filha da moral e da razão”; “O amor por princípio e a ordem por base, o progresso por fim” e “Libertas que sera tamen”, lema da Inconfidência Mineira, que significa “liberdade ainda que tardia”.
A composição do pedestal da estátua contém simbolismos complexos e ricos em detalhes. Nas quatro faces, esculturas representariam alicerces da identidade sociocultural brasileira: os indígenas, como símbolo do período pré-descobrimento; a conquista portuguesa, encarnada na figura de Caramuru; a catequese, representada por Padre Anchieta; e a contribuição africana, encenada em passagens do livro “A Cachoeira de Paulo Afonso”, de Castro Alves. As imagens constroem uma narrativa de diversidade étnica e cultural brasileira, exaltando o imaginário da unidade nacional que o governo republicano pretendia construir. Floriano Peixoto é retratado em posição de comando, portando uma espada e ladeado pela figura feminina, em clara alusão à sua posição de “Consolidador da República”.
Reprodução Prefeitura Rio
Além de uma exaltação ao segundo presidente do Brasil, o monumento é uma representação alegórica dos ideais republicanos e positivistas que marcaram o início da República no país. Assim, a estátua possui uma narrativa visual da formação da nação brasileira, entrelaçando episódios históricos e personagens emblemáticos que constroem um discurso de unidade nacional e patriotismo.