Estátua equestre de Dom João VI

Poucas figuras foram tão referenciadas na história do Rio de Janeiro quanto D. João VI. Regente do trono português desde 1792 – após a morte de seu irmão mais velho, José, e o diagnóstico de sua mãe, Dona Maria I, como “mentalmente incapaz” de gerir o reino – o príncipe enfrentou momentos turbulentos em seu governo, com as constantes tensões entre Portugal e França após a ascensão de Napoleão Bonaparte. Diante das ameaças francesas, Dom João VI decidiu transferir a Corte portuguesa para o Brasil com a ajuda do governo inglês e, em março de 1808, após uma breve estadia em Salvador, a família real desembarcou no Rio de Janeiro, transformando a cidade na capital do império luso.

Chegada da família real portuguesa à Igreja do Rosário, então Sé do Rio de Janeiro (representação). Armando Vianna, 1937. Wikimedia Commons

Com a chegada de centenas de portugueses ao Rio, a cidade sofreu grandes transformações em sua infraestrutura, em seus costumes e tradições. Nos anos seguintes a 1808, diversas instituições foram criadas, tais como a Academia Real Militar, o Arquivo Militar, a Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro, o Banco do Brasil, a Biblioteca Real, a Casa da Moeda, a Imprensa Régia e o Jardim Botânico. O Paço dos vice-reis transformou-se em Paço Real, o convento do Carmo se tornou residência de D. Maria I, o Rio se transformou em uma “Nova Lisboa”. Porém, com a ameaça napoleônica neutralizada, a pressão dos seus súditos em Lisboa fez com que Dom João VI voltasse para Portugal em 1821, após 13 anos no Rio de Janeiro, deixando um de seus nove filhos, Dom Pedro, como príncipe regente do Brasil. D. João reinou em Lisboa por mais meia década, até que no dia 4 de março de 1826, o monarca foi acometido por um mal estar que o levou à morte seis dias mais tarde.

Partida da rainha Carlota Joaquina (e a Corte portuguesa), em abril de 1821. Irmãos Thierry, 1839 – Wikimedia Commons

Inaugurada em 1965 na praça XV, a estátua de Dom João VI foi oferecida como presente pelo governo português, e fez parte das comemorações dos 400 anos de fundação da cidade (1565).  A obra é do escultor modernista português Salvador Carvão da Silva d’Eça Barata Feyo, e é bastante representativa do momento em que foi instalada, bem como da memória que se pretendia construir em torno do  monarca. Buscando fugir de qualquer imagem “bonachona”, a estátua retrata D. João em cima de seu cavalo — ou seja, é uma estátua equestre, utilizada desde a Antiguidade para exaltar figuras consideradas heróicas, como imperadores, reis e militares —, ao que consta, da raça portuguesa alter-real, que sobe uma rampa, de modo a avantajar ainda mais o porte físico do animal. O monumento está voltado para a Baía de Guanabara, com D. João mirando o mesmo local por onde ele e toda Corte portuguesa desembarcaram, no dia 8 de março de 1808. Em sua mão direita, Dom João segura um orbe, isto é, um globo terrestre anexado a uma cruz. O símbolo foi frequentemente usado por reinos católicos, como o de Portugal, para representar o domínio de Cristo — representado pela cruz — sobre o mundo (o orbe). 

Na imagem, é possível ver o orbe na mão de D. João, assim como a placa com a indicação do presente de Portugal. Wikimapia

Com quase seis toneladas, a homenagem ao monarca foi construída em bronze, e colocada sobre um pedestal de mármore. Além do impacto exercido no imaginário popular dos cariocas e turistas que passam pelo local, a estátua teve papel fundamental na memória luso-brasileira da população carioca. Em 2012, uma réplica da escultura foi instalada na cidade do Porto, em Portugal.

Estátua equestre de D. João VI. Wikimedia Commons

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