Edifício A noite

“Era – para quem desembarcava no porto do Rio de Janeiro depois de 1930 – a primeira incontornável referência visual. O grande edifício […] era a prova de que a cidade afamada por sua beleza natural tinha também outras credenciais para apresentar-se como um centro urbano moderno e civilizado.”

O texto acima é um trecho do parecer de Marcos Castrioto Azambuja sobre o tombamento do Edifício Joseph Gire. Talvez muitas pessoas não o reconheçam por esse nome, mas se falarmos do Edifício “A Noite”, a mente rapidamente viajará a um prédio no nº 7 da Praça Mauá, o 1º arranha-céu da América do Sul.

Imagem retirada de https://bndigital.bn.gov.br/artigos/memoria-inauguracao-da-radio-nacional/

Construído no terreno onde antes funcionava o Liceu Literário Português, o “A Noite” adquiriu seu nome popular, justamente, porque quando foi inaugurado, em 1929, abrigava a sede do Jornal “A Noite” – periódico fundado em 1911 por Irineu Marinho. O letreiro do jornal, fixado nos andares mais altos do prédio de 22 andares, acabou caracterizando a construção, que foi projetada pelos arquitetos Joseph Gire – que também projetou o Copacabana Palace e o Hotel Glória – e Elisiário Bahiana, em estilo Art Déco e erguida em concreto armado.

O edifício é um marco da arquitetura moderna no Rio. Após sua construção, a cidade passou por um processo de verticalização que mudou sua paisagem. Até a construção do A Noite os prédios da Av. Central – atual Rio Branco – possuíam até, no máximo, 8 pavimentos. E era do mirante, no terraço do edifício com mais de 100 metros de altura que chamava a atenção de quem passasse pela região, que se conseguia uma vista privilegiada da cidade e da Baía de Guanabara.

Imagem retirada de http://bndigital.bn.gov.br/artigos/a-noite/

O “A Noite” também já foi um dos focos da boemia nos anos iniciais do séc. XX. A partir de 1936, a então recém-inaugurada Rádio Nacional ocupou o edifício. Nomes como Emilinha Borba, Dalva de Oliveira e Cauby Peixoto brilharam nos corredores da Rádio, que ficou ali até 2012.

Nos próximos meses, o edifício que foi o maior mirante do Rio até a construção do Cristo Redentor (1931) será leiloado, dando início ao processo de venda de mais de 3 mil imóveis da União à iniciativa privada.

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