É uma casa portuguesa

     Um São José de azulejo
 Mais o Sol da primavera
       Uma promessa de beijos
                Dois braços à minha espera
                É uma casa portuguesa com certeza
                                                                                           Lá é com certeza uma casa portuguesa

Trecho de “É uma casa portuguesa” – Arthur Vaz Da Fonseca, Reinaldo Ferreira e Vasco de Matos Sequeira

A maior imigração estrangeira voluntária que cruzou o Oceano Atlântico para o Rio de Janeiro foi a que teve origem em Portugal. Ainda que imprecisa no que corresponde ao registro de entrada, se calcula que  pelo menos um milhão de portugueses entraram no Brasil entre as décadas de 1820 e 1920. Trata-se de um número expressivo, e este fluxo migratório se dirigiu sobretudo à cidade do Rio de Janeiro, o que fez com que em 1890 a população portuguesa pudesse corresponder a cerca de vinte por cento dos habitantes da cidade.

Imigrantes portugueses à espera do navio para o Brasil, século XX. Wikimedia Commons

As rotas atlânticas sempre trouxeram portugueses ao Rio. Desde os primeiros colonizadores, passando pelo século XVIII, com a atividade mineradora, e pela transferência da Corte portuguesa no início do século XIX, mas foi especialmente a partir da virada para o século XX que este movimento se intensificou.

Neste período, muitos dos imigrantes lusos, em sua maioria pobres, buscaram se estabelecer na região portuária ou no centro da cidade, onde redes de parentesco ou de referência poderiam ajudar a conseguir trabalho. Ocuparam os cortiços — espaços muitas vezes compartilhados com a população negra — e disputaram postos de trabalho no porto e nas fábricas — com vantagens, considerando a desigualdade de oportunidades marcada pelo racismo. Com as reformas urbanas e redução da possibilidade de morar nestas áreas centrais do Rio, esses imigrantes se dirigiram, pela linha do trem, aos bairros da periferia, ou mesmo para as encostas de morros próximos, onde cresceram as favelas. 

Garrafeiros portugueses. Além de trabalharem nas fábricas e no porto, os portugueses também eram trabalhadores ambulantes. Foto: Marc Ferrez
Um mascate português, c. 1890. Foto: Marc Ferrez

No pós abolição, o Rio Atlântico será cenário de encontros e convivência próxima, e também de desencontros e conflitos, entre os imigrantes portugueses pobres e a população negra, também pobre, que habitava a cidade. O preconceito nunca deixou de estar dolorosamente presente nestas relações mas, ainda assim, estes grupos se misturaram de diferentes maneiras, e não poucas vezes estes laços geraram descendência e criações.

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