Da mais bela à boca banguela: a Baía de Guanabara sob olhares do mundo

Entrada da Baía de Guanabara, ao fundo o Pão de Açúcar, c. 1885. Foto de Marc Ferrez – Acervo IMS 

Rodeada de seus rochedos e ilhas, com formações geológicas de milhares de anos, cheia de enseadas e manguezais nos tempos em que suas águas eram límpidas, com a Mata Atlântica espalhando verde por todos os cantos e vasta fauna terrestre e marítima, a baía de Guanabara sempre foi objeto de deslumbre por parte dos que a avistavam pela primeira vez.  

Ainda em 1585, José de Anchieta chamou a baía de Guanabara de “mui formosa e ampla” e, comparativamente, a elegeu “a mais airosa e amena baía que há em todo o Brasil”. O calvinista Jean de Léry, trinta anos antes de Anchieta, descreveu a baía de Guanabara como um espaço difícil de navegação, apesar de sua beleza. Impressionado com a majestade do Pão de Açúcar, descrito como “um rochedo em forma de pirâmide” que “de longe parece artificial”, ele se preocupava com a proximidade das barbatanas das “horríveis baleias” que o assustam nas navegações pela região.  

Já no século XIX, Maria Graham foi mais uma que a definiu como incomparável em beleza, esnobando “Nápoles, o Firth of Forth, o porto de Bombaim e Trincomalee”. Stefe Zweig, vendo-a pela primeira vez em 1940, usou expressões superlativas como “gigantesca concha desabrochada”, “um acontecimento sem par” e a embocadura de uma cidade que “abre seus braços macios, femininos”.  

Entrada da baía de Guanabara, vista de Niterói – c. 1890. Foto de Marc Ferrez – Acervo IMS

Foi o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, porém, que fez a definição mais famosa da baía. Ao contrário de seus compatriotas franceses e demais europeus, Lévi-Strauss viu na fama que precede o espaço, algo que não se completa. Em sua visão, obtida quando de sua viagem em 1934 ao Brasil e anotada nas páginas de Tristes trópicos, o Rio não era exatamente o que se esperava: 

“Depois disso, sinto-me tanto mais embaraçado para falar do Rio de Janeiro, que me desagrada, a despeito da sua beleza tantas vezes celebrada. Como direi? Parece-me que a paisagem do Rio não está na escala das suas próprias dimensões. O Pão de Açúcar, o Corcovado, todos esses pontos tão louvados parecem ao viajante que penetra na baía como tocos de dentes perdidos nos quatro cantos de uma boca banguela. Quase constantemente submergidos na bruma pegajosa dos trópicos, esses acidentes geográficos não chegam a mobiliar um horizonte largo demais para se contentar com eles. Se se quiser abarcar um espetáculo, é necessário tomar a baía ao contrário e contemplai-a das alturas. Do lado do mar e por uma ilusão inversa a de Nova Iorque, é a natureza que aqui se reveste da forma de um prédio em construção”.  

A “boca banguela” de Lévi-Strauss é sem dúvida uma ideia que parece improvável a outros autores, mas, se pensarmos no olhar que ele propõe – das montanhas em direção ao mar – como o mais privilegiado para vermos um “espetáculo”, confirma-se que, seja de onde estiver, a paisagem de uma cidade entre o mar e as montanhas seduzia até o mais crítico dos seus observadores.  

Vista do Pão de Açúcar a partir da Fortaleza de Santa Cruz, c. 1890. Foto de Marc Ferrez – Acervo IMS 

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