A Nova Objetividade Brasileira e a Tropicália

Dentre as grandes exposições que o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro realizou na década de 1960, uma das mais importantes foi a Nova Objetividade Brasileira, uma coletiva que ocorreu entre 6 e 30 de abril de 1967. Assim como outra mostra importante, Opinião 65, o que ocorre é a reunião de nomes jovens e experientes que se articulam a partir da ideia de Vanguarda. Ao contrário de 1965, porém, o viés político ostensivo naquele período dá lugar a novas linguagens experimentais que abrem novos caminhos críticos no momento de escalada autoritária no país. 

Capa do Catálogo “Nova Objetividade Brasileira”, arte de Hans Haudenschild. Portal Lygia Clark

A exposição foi fruto de uma série de movimentações ao redor de debates com artistas, críticos e curadores em torno do caráter comercial das obras e da formação de um mercado de arte através do boom de galerias na cidade. O crítico mineiro Frederico Morais, nessa altura já ligado ao dia a dia do MAM e autor de uma coluna sobre artes no Diário de Notícias, era um dos articuladores que faziam a ponte entre a geração de Hélio Oiticica e Lygia Clark – ambos participando da exposição de 1967 – e de Rubens Gerchman, Carlos Vergara e Antonio Dias. Um grupo de artistas chegam a assinar, no mesmo ano, um manifesto intitulado Declaração de princípios básicos de Vanguarda. Outros nomes que surgiam nesse período são Carlos Zílio, Anna Maria Maiolino, Glauco Rodrigues e Maria do Carmo Secco. Além desse grupo articulado no Rio de Janeiro, a exposição também contou com nomes importantes de São Paulo, como Geraldo de Barros, Waldemar Cordeiro, Nelson Leirner e Wesley Duke Lee. 

Carro Vermelho, 1967 – obra de Roberto Magalhães exposta na Nova Objetividade Brasileira. Enciclopédia Itaú Cultural – Reprodução fotográfica Paulo Scheuenstuhl

A exposição no MAM, porém, não contou com a presença de Morais em sua organização. A curadoria ficou à cargo de outro crítico da cidade, Mário Barata, e texto do catálogo com autoria de Hélio Oiticica. Em seu texto, Oiticica define seis princípios básicos dessa “Nova Objetividade”, ou “um estado típico da arte brasileira na vanguarda atual” (palavras do catálogo). Seriam eles: vontade construtiva geral; tendência para o objeto ao ser negado e superado o cavalete; participação do espectador; abordagem e tomada de posição em relação a problemas políticos, sociais e éticos; tendências para proposições coletivas e consequentes abolição dos “ismos” característicos da primeira metade do século na arte de hoje; e, finalmente, ressurgimento e novas formulações do conceito de antiarte. 

Foto da instalação Tropicália, de Hélio Oiticica, 1967. Enciclopédia Itaú Cultural

Se teve um único trabalho que sintetizou todos os princípios expostos por Oiticica em seu texto-manifesto, sem dúvida foi o seu “ambiente-instalação”, isto é, um conjunto de cabines chamado pelo artista de Penetráveis, intitulado Tropicália. Circundadas por espadas de São Jorge, areia, brita, araras, poemas enterrados de Roberta Oiticica, além de televisor, raízes de plantas e diferentes cheiros, Oiticica colocava em práticas sua ideia de supra-sensorial, em que todos os sentidos deviam ser ativados pelo público visitante. A obra ficou famosa principalmente por ter se transformado, em 1968, em título de uma canção de Caetano Veloso que se tornaria o nome de um movimento cultural transformador da arte brasileira: o Tropicalismo. 

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