A missão artística francesa

Em 1815 Portugal restabeleceu suas relações com a França, depois da derrota de Napoleão Bonaparte e da volta da dinastia Bourbon ao poder. Muitos artistas franceses que apoiaram Napoleão desejavam sair da França temendo represálias e encontraram em D. João VI e no conde da Barca (Antônio de Araújo de Azevedo), patronos dispostos a contratá-los. Assim, em 26 de março de 1816 desembarcava no Rio de Janeiro a Missão Artística Francesa, liderada por por Joachim Lebreton – secretário perpétuo da classe de belas-artes do Instituto Real da França.

Joachim Lebreton, líder da Missão Artística Francesa. Retrato de Adélaïde Labille-Guiard, 1795. Wikimedia Commons

Com sua viagem paga pelo governo brasileiro, entre os principais participantes estavam pintores, escultores, ferreiros e engenheiros. Jean-Baptiste Debret, Nicolas-Antoine Taunay e Auguste-Henri-Victor Grandjean de Montigny são alguns dos muitos artistas que deixaram cenários  importantes gravados na história do Rio. O escultor e gravurista Marc Ferrez (tio do famoso fotógrafo homônimo) e o gravador de medalhas Zéphyrin Ferrez (irmão de Marc) uniram-se à Missão meses depois da chegada dos primeiros artistas.

Debret instalou o seu atelier no bairro do Catumbi e se tornou pintor oficial  na Corte de D. João VI e, depois, de D. Pedro I. Deixou-se encantar pela exuberância e ineditismo das paisagens que via por aqui, dos costumes barrocos e registrou tudo em suas pranchas e livros, como no famoso Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Essas imagens são uma inestimável documentação para o estudo da cultura e da paisagem brasileiras da época.

Aclamação de D. Pedro I, imperador do Brasil. Jean-Baptiste Debret, litografia sobre papel, 1839. Coleção Brasiliana/Pinacoteca de São Paulo.

O arquiteto Grandjean de Montigny realizou a remodelação da cidade, implantando a estética neoclássica e superando a influência barroca. Elaborou o projeto da primeira sede oficial da Academia Imperial de Belas Artes (1826) – da qual só resta o pórtico, no Jardim Botânico da cidade; do Solar Grandjean de Montigny (1828), sua casa na Gávea e, hoje, Centro Cultural da PUC-Rio; da Praça Monumental do Campo de Santana (projeto de 1827, não construído); da primeira sede da Alfândega (edifício da Praça do Comércio), obra concluída em 1820 e que hoje abriga a Casa França-Brasil; além de diversos outros projetos de saneamento e urbanização.

Solar Grandjean de Montigny, projeto de 1828 que hoje é a sede do Centro Cultural da PUC-Rio, na Gávea. Site IPatrimônio

Muitos destes projetos acabaram não se concretizando. Em 1826, ele elaborou o projeto de uma extensa avenida monumental que ligaria o Campo de Santana, o Largo do Rossio e a Praça XV, na qual seria construído um novo e imponente palácio imperial. Em 1827, preparou uma nova malha urbana no Mangue de São Diogo, simétrica e regular. Também propôs uma remodelação do Campo de Santana, que ficaria rodeado de edifícios públicos, políticos e administrativos, tomando como modelo as praças francesas. A ideia era criar um novo centro de poder, afastado da Praça XV e voltado para o lado da cidade que crescia.

Montigny – como professor de arquitetura da Academia Imperial de Belas Artes – foi responsável pela formação de toda uma geração de arquitetos do Rio.

Fachada da Academia Imperial de Belas Artes, projetada por Grandjean de Montigny. Foto de Marc Ferrez, 1891. Wikimedia Commons

Marc Ferrez, por sua vez, criou uma tradição artística e arquitetônica, passada a seus descendentes, que constituíram uma base importante para a análise do urbano do Rio. Atuou ao seu lado Zéphyrin Ferrez, que colaborou com Debret e Grandjean de Montigny na decoração de ruas e praças do Rio de Janeiro.

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