A Academia Brasileira de Letras
O meio literário do período colonial era repleto de academias. Era comum que os (poucos) intelectuais e escritores formassem agremiações para cultivarem algum tipo de troca e promoverem atividades culturais. Algumas ficaram famosas, como a Academia Brasílica dos Esquecidos, a Academia dos Seletos ou a Academia dos Felizes. De forma precária, com dificuldades de continuidade, desde o século XVIII tais coletivos de escritores – que iam de literatos a médicos, de historiadores a filólogos – estavam presentes no cenário brasileiro.
Além das antigas Academias, também existiam as Sociedades. De todo modo, a literatura e os livros perdiam espaço para outras artes de sucesso popular, como a música e o teatro. Apesar dos grandes nomes que surgiram na segunda metade do século XIX serem famosos entre o círculo de leitores da cidade, Machado de Assis afirmava, em crônica do Diário do Rio de Janeiro publicada em 24 de março de 1862, que “Pode-se dizer que o nosso movimento literário é dos mais insignificantes possíveis. Poucos livros se publicam e ainda menos se leem”. Mesmo com sucessos em folhetins já em circulação, o jovem cronista, sem saber que futuro o aguardava, achava o campo literário disperso e sem respaldo do poder imperial ou da sociedade.
Mesmo assim, as Academias, Sociedades e agremiações em geral cresciam, nos anos que acompanharam a formação do meio literário carioca e brasileiro. Foram centenas de grupos promovendo encontros e publicações. No Rio de Janeiro, um grupo coeso de escritores que se reuniam com frequência em casas de particulares, salões de restaurantes, hotéis e redações de jornais, iniciaram a articulação de uma entidade, nos moldes do modelo francês da Casa de Richelieu, que tivesse uma missão em prol da língua portuguesa e conseguisse reunir não só literatos, mas demais personalidades que fizessem parte da elite intelectual do Rio e do Brasil.
Em 1890, incomodados com a falta de profissionalismo com o qual a imprensa tratava as contribuições de seus cronistas e escritores colaboradores, e visando a questão dos direitos autorais, o próprio Machado de Assis e mais de uma centena de autores, como Pardal Mallet, Raul Pompéia, Coelho Neto, José do Patrocínio, Silvio Romero, Araripe Jr. se reuniram para criar a Sociedade dos Homens de Letras do Brasil. A ideia não funcionou como previam, mas essa foi uma iniciativa que ensaiava o que a Academia Brasileira de Letras viria a ser.
Foi por inciativa de Lúcio de Mendonça, com participação de colaboradores entusiastas como José Veríssimo, Afonso Celso e Medeiros e Albuquerque, e após uma série de encontros com diferentes autores que, em 15 de dezembro de 1896, sob a presidência de Machado de Assis, aclamado de forma unânime, se iniciaram os trabalhos do que viria a ser a futura Academia.
Após as reuniões preparatórias realizadas na redação da Revista Brasileira – publicação criada pelo crítico José Veríssimo -, em 28 de janeiro de 1897 foram aprovados os estatutos da instituição e a composição de quarenta membros fundadores e fixos – daí serem imortais. Junto ao cargo de presidente delegado a Machado, assinavam o documento: Joaquim Nabuco como secretário-geral, Rodrigo Otávio como primeiro secretário, Silva Ramos como segundo secretário e Inglês de Souza como tesoureiro.
A sessão oficial de inauguração da Academia Brasileira de Letras ocorreu em 20 de julho de 1897, nos salões do Pedagogium, instituição pública voltada ao aspecto cultural da cidade, localizada na rua do Passeio. Sem sede fixa e sem ajuda financeira do governo republicano – como era, aliás, a ideia original do projeto da ABL –, apenas em 1923, após a exposição do Centenário da Independência, o governo francês doou o prédio chamado Petit Trianon, réplica da edificação de mesmo nome localizada em Versalhes e que serviu de espaço para a delegação francesa durante os festejos de 1922.
Desde então, a Academia Brasileira de Letras abriga uma série de nomes, polêmicas e conflitos que marcaram trajetórias literárias – para o bem e para o mal. Casa de Machado, Coelho Neto e Graça Aranha, viu a entrada de João do Rio e a recusa de Lima Barreto, para ficarmos nos extremos de seu tempo inicial. Renovando seu perfil ao longo das décadas, ela segue como espaço de reconhecimento e um dos principais representantes da história literária do Rio de Janeiro.