Grupo Neoconcreto

Em meio ao novo salto modernizador que as artes visuais passavam na década de 1950, podem ser citados como marcos históricos a fundação dos Museus de Arte Moderna do Rio e de São Paulo, a criação da Bienal Internacional de Arte de São Paulo e a ampliação dos veículos para o pensamento crítico circularem com novos debates nacionais e internacionais. Um desses espaços fundamentais foi o renovado Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, cuja direção de Reynaldo Jardim e a revolução gráfica de Amílcar de Castro marcaram na época a imprensa carioca e nacional. 

Hélio Oiticica, “Metaesquemas”, 1958. Site Arte Contada

Essa efervescência cultural e institucional colaborou para que surgissem coletivos de artistas, como o grupo Ruptura, em São Paulo, em 1952, e o grupo Frente, do Rio de Janeiro, em 1954. Esses dois coletivos, poucos anos depois, desembocaram nos movimentos Concreto e Neoconcreto. A partir da I Exposição de Arte Concreta realizada no MAM de SP em 1956, uma nova poesia também de matriz cosmopolita e gráfica passa a se articular com as artes visuais. Junto com um princípio muitas vezes matemático para as formas, a paleta de cores se reduz, o aspecto industrial dos materiais ganha mais força e um pensamento original sobre o espaço bidimensional e o objeto da arte projetam caminhos singulares para a arte local. De alguma forma, artistas que já trabalhavam com a temática do abstracionismo e da geometria se encontraram nessa nova proposta estética e conceitual. 

Em um primeiro momento, o grupo Concreto (com hegemonia paulista) incluiria diferentes nomes ligados originalmente ao Grupo Frente. No final da década, porém, mais precisamente em 1959, o segmento carioca rompe com os concretos e é batizado de Neoconcreto. Isso ocorre pelo paulatino afastamento dos rígidos princípios do grupo paulista após debates acalorados em veículos de imprensa da época – como o já citado Suplemento Dominical do Jornal do Brasil e o Suplemento de Cultura do Estado de São Paulo. Haroldo e Augusto de Campos, Décio Pignatari, Waldemar Cordeiro e Ferreira Gullar são alguns dos artistas, poetas e críticos que demarcaram (nem sempre de forma tranquila) as diferenças dos movimentos. 

Capa do SDJB, coletânea de textos sobre o grupo Neoconcreto, março de 1959. Fonte: Blog Artsoul

O poeta e artista visual maranhense Ferreira Gullar, radicado no Rio desde o início da década de 1950, foi o teórico mais aguerrido do grupo de artistas que também contava com antigos nomes do Grupo Frente – como Lygia Clark, Lygia Pape, Hélio Oiticica e Franz Weissman –, além de outros novíssimos como Amílcar de Castro e Theon Spanudis. Ao propor em 1960 a sua “teoria do não-objeto”, Gullar mostra que os neoconcretos cariocas rompiam com a escola paulista em prol de uma maior liberdade expressiva, incluindo uma visão mais orgânica dos materiais e uma reflexão humanista sobre a participação do espectador nas obras. 

Essas transformações inauguram um novo momento da arte local que eclodiu na década de 1960 nos trabalhos revolucionários de Lygia Clark e Hélio Oiticica. Dois artistas que, com exposições nos grandes museus do mundo hoje em dia, são reconhecidos internacionalmente como nomes decisivos da arte contemporânea mundial do século XX.

Ferreira Gullar, Lygia Pape, Teon Spanudis, Lygia Clark e Reynaldo Jardim. Fonte: Site Do próprio bolso

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