A Galeria Rio Operário apresenta um panorama da vida, do trabalho e das lutas dos operários da cidade do Rio de Janeiro, principalmente da fábricas de tecidos que, desde o final do século XIX até os anos 1930, ocupam a paisagem carioca formando bairros, influenciando nos modos de vida, acrescentando música e poesia à cidade e demarcando espaços urbanos que ganharam a condição de lugares de memória. Esse “mundo do trabalho”, anuncia-se como promovedor do progresso e capaz de fazer a cidade se transformar e modernizar.
A classe trabalhadora carioca se formou a partir da mistura dos descendentes dos negros africanos que construíram a cidade na escravidão com os imigrantes nacionais e estrangeiros chegados em levas antes da abolição – não sem conflitos e tensões. A Galeria evidencia exemplos das experiências operárias na cidade, com salas e memórias que nos situam na cidade capital do Brasil e no seu processo de modernização.
Os cariocas mais ricos vão às ruas nos seus calhambeques decorados com guirlandas de flores. Os mais pobres tomam o bonde na praça da República armados de confete e serpentina e, na praça Onze, se organizam para as noites de festa, sempre com muita dança e batucada. A cidade ferve por todo lado, o corpo carioca está em ebulição. Mas, será que essa festa é para todos?
O auge das fábricas de tecidos no Rio de Janeiro foi o período entre 1870 e 1920. Essas fábricas alteraram a paisagem da cidade, formaram bairros e abriram novos caminhos. Por outro lado, também atuaram como construtoras da classe operária, incorporando parte da mão-de-obra anteriormente escravizada e agregando o contingente de imigrantes europeus que chegaram na cidade a partir de meados do século XIX. As fábricas de tecido ajudaram a delinear o processo de industrialização do país.
Há duas versões sobre a introdução do futebol no Rio de Janeiro: algumas narrativas apontam Oscar Cox como o responsável por inserir o esporte em terras cariocas, após uma temporada de estudos na Europa. Entretanto, há relatos de que, nos anos 1870, alguns marinheiros ocasionalmente realizavam exibições do jogo no cais do porto. Independente da narrativa, o fato é que, no início, o futebol esteve vinculado às famílias aristocráticas, mas sua inserção nas fábricas fez o esporte se popularizar pouco a pouco – não sem conflitos.
A vida dos operários para além do trabalho. As conversas de botequim, a vida doméstica, as relações de afeto. A sala Viver operário trata, justamente, dos lugares e momentos em que, como observou Sidney Chalhoub (2001), os trabalhadores das fábricas “afogavam as mágoas da luta pela vida e se entorpeciam os corpos doloridos pelas horas seguidas do labor cotidiano.”
Apesar dos registros oficiais marcarem a greve dos tipógrafos, em 1858, como a primeira do Rio de Janeiro, paralisações de trabalhadores acontecem desde o início do século XIX. De escravizados a trabalhadores livres, as greves eram feitas por motivos diversos e algumas se destacaram, produzindo grande impacto na cidade e expondo as condições – por vezes insalubres – do mundo do trabalho.