Como era o território da Maré antes de existir, com a atual configuração de um conjunto com 16 favelas? Como era antes, o litoral norte da cidade, com as praias e as ilhas da Baía de Guanabara? Quais foram as primeiras destinações do território que atualmente serve à cidade de várias formas – do fornecimento de mão de obra a área destinada a receber resíduos – e recebe tão pouco em troca?
A pergunta inicial pode ser feita em qualquer bairro ou cidade do mundo. Quando se trata da América do Sul, que viveu a colonização europeia, o genocídio e a expulsão dos povos originários, ela adquire ainda mais relevância.
A galeria Rio de Marés aborda o Complexo da Maré desde os primeiros séculos de colonização do Rio de Janeiro: a formação do território às margens da baía e sua natureza exuberante, aldeias de pescadores, fazendas, cais e, a partir do século XX, cada vez mais constantes, os danos ambientais na região.

Curadoria: Mario Brum

A migração é uma marca histórica do território da Maré. A região, cortada por linhas férreas e rodovias e transformada em área fabril e de grandes obras públicas, impulsionou o fluxo de migrantes para o território através de muitas levas, em diferentes períodos, por diferentes razões. Todas elas contribuíram para tornar a Maré um mosaico de sotaques, ritmos, sabores e cores. Um complexo de origens, identidades e pessoas.

Em uma viagem panorâmica através do tempo, é possível acompanhar as inúmeras mudanças deste território. A Maré antes do Brasil, antes da Brasil, os desdobramentos da ocupação e quem faz a Maré diariamente.

Dentre todas as lutas e conquistas dos moradores da Maré desde a ocupação do território, o direito à educação – previsto no artigo 6º da Constituição Federal de 1988 – também foi duramente conquistado a partir da organização coletiva.
A despeito da falta de investimento e do descaso do poder público, os moradores se organizam. Assim, além das escolas que hoje estão no território, na década de 1990 a Maré se tornou uma das primeiras favelas a possuir um pré-vestibular comunitário, formado pelos próprios moradores.
Em anos de lutas e conquistas, hoje é crescente o número de mareenses que ocupam as cadeiras das universidades, cargos políticos e espaços artísticos e culturais – dentro e fora da Maré.

A Maré é feminina. Ela acolhe, constrói, luta e carrega a vida na barriga, nos braços, na essência. De Dona Orosina – tratada pela narrativa mareense como a primeira moradora da Maré enquanto espaço de favelas – a Marielle Franco – vereadora assassinada em 2018 – as trajetórias das mulheres faveladas, seus corpos e suas lutas marcam a história do Rio de Janeiro.

Poucos meses depois da Conferência Mundial sobre Meio Ambiente realizada no Rio de Janeiro (mais conhecida como Rio-92), uma das lideranças da Maré, Agamenon de Almeida, fez uma denúncia no jornal O Globo a respeito da poluição que os moradores do Conjunto Esperança passaram a conviver a partir das obras da Linha Vermelha e a Usina de Lixo do Caju.
Há muito tempo, os moradores da Maré vivem as consequências das disputas e escolhas feitas nas gestões urbana do Rio de Janeiro. A desigualdade ambiental se reflete na desigualdade do acesso à saúde. E renda e raça ainda são critérios para distribuição das benesses urbanas e dos elementos fundamentais para o funcionamento de uma cidade.

A identidade do território da Maré – composto por 16 favelas -foi gradualmente construída a partir da segunda metade do século XX, através das lutas por moradia, pelo território, pela água, saneamento, escolas e postos de saúde. Em anos recentes, pela vida, pelo direito de ser jovem, negro, favelado, favelada, favelade.
As seis favelas originais – Timbau, Baixa do Sapateiro, Parque Maré, Parque União, Rubem Vaz e Nova Holanda, lutaram contra a ameaça de remoção promovida pelo Governo Federal na virada de década de 1970 para 1980. Foi na luta que esses moradores se reconheceram como parte de um território em comum: o Complexo da Maré.
As favelas mais recentes: Vila do João, Nova Maré, Conjunto Esperança, Conjunto Pinheiro, Bento Ribeiro Dantas, Vila Pinheiro e Salsa e Merengue, se uniram às lutas cotidianas contra a remoção e pela urbanização.
Identidades múltiplas, forjadas a partir de interesses comuns e muita luta, os mareenses sempre reivindicaram sua condição de cidadãos plenos de direitos .

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