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Rua Bella de S. João [Rua Bela] – 27/01/1909

Quem visitou as memórias anteriores desta mesma sala, já percebeu que estamos sempre atentos à questão do vestuário. Mas aqui, vamos nos ater apenas a este tema. Sem aprofundar, mas chamando a atenção para a riqueza, a diversidade e a elegância do vestir dos cidadãos e das cidadãs do Rio de outrora. Isto, sem esquecer dos célebres tamancos, às vezes precários... As ruas do Rio sempre foram uma vitrine. Vale lembrar que naqueles tempos, a influência da chamada ‘alta-costura parisiense’ da segunda metade do século XIX seguia forte no estrato burguês da sociedade local Começamos pela antiga rua Bella de São João, atual rua Bela no trecho junto ao Campo de São Cristóvão, nos tempos de obras de modernização/instalação de novos trilhos, empreendidas pela Light. Nas duas esquinas há estabelecimentos comerciais. Esta rua a céu aberto deixou saudades. No início dos anos 1990, foi coberta por um viaduto de dois pavimentos que integra a Linha Vermelha, uma das mais importantes vias da cidade. Suas pistas correm junto às janelas dos edifícios, muitos ainda antigos sobrados que resistem ao tempo e à cruel evolução da cidade.

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Detalhe da fotografia Rua Bella de S. João [Rua Bela] – 27/01/1909

Observando a imagem mais de perto, notamos que tratava-se de rua predominantemente residencial. O status de bairro imperial havia sido perdido com a queda da monarquia, e começava um período de transição naquele bairro, com a saída de muitos moradores e a chegada de indústrias vindas do Centro. Ainda assim vemos a impressionante quantidade de postes instalados e ainda muitos pedestres que circulavam por ali, vinte anos após a proclamação da República. Há operários, cidadãos com trajes mais simples e também os alinhados. Os homens de chapéu e algumas mulheres portando sombrinhas.

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Detalhe da fotografia Rua Bella de S. João [Rua Bela] – 27/01/1909

Neste detalhe, um evidente testemunho daquilo que denominamos ‘distinção de classe social’. As mulheres em primeiro plano – uma caminhando para a direita e a outra, em direção ao fundo da imagem – trajam vestidos longos e blusas de mangas ¾ com os cintos aparentes, sapatos baixos e nada de chapéus e sombrinhas; seguem a passos firmes com suas vestimentas mais simples e funcionais. Já as duas mulheres que caminham na direção do fotógrafo estão trajadas para o passeio ou outra atividade de seu grupo social trajando longos vestidos com cintos bem justos; a da esquerda suspende-o para que não esbarre na calçada; o vestido da direita tem a gola alta. As mangas são volumosas e seguidas das luvas de cano longo. Sapatos brancos, chapéus adornados e sombrinhas – que para além de sua função de proteger do sol, eram um acessório da moda, naquele período.

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Em frente ao Senado [Praça da República] – 30/01/1922 – Augusto Malta

Esta fotografia foi tirada na praça da República, na lateral do antigo palácio do conde dos Arcos, último vice-rei do Brasil. Com entrada pela rua Moncorvo Filho, este palácio foi construído em 1819 e ali funcionou o Senado Imperial, depois da independência do Brasil, tendo sido palco de muitos episódios, inclusive a assinatura da Lei Áurea em 1888. Proclamada a República, ali continuou a funcionar o Senado Federal até 1925, quando mudou-se para o palácio Monroe, junto à Cinelândia. Na década de 1940 ali instalou-se a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O edifício foi reformado e ampliado; hoje, a parte superior da fachada, como se vê na fotografia, está alterada. O objetivo do registro era documentar um poste que sustentava fiação elétrica e os cabos de energia do bonde; e o fotógrafo acertadamente abriu o enquadramento para incluir os trilhos. Mas estão no quadro um passante – uniformizado, talvez das forças policiais — e um elegante cidadão que parece aguardar o bonde, talvez. Ele merece um destaque.

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Detalhe da fotografia Em frente ao Senado [Praça da República] – 30/01/1922 – Augusto Malta

O ano era 1922; no detalhe, podemos observar seu elegante estilo. O chapéu de abas retas com fita, tipo boater (palheta) e o paletó claro ‘dão o tom’; e a janela à esquerda contribui para este belo resultado – que é apenas um detalhe da fotografia anterior, vale lembrar. E que nada tem a ver com o objetivo daquela fotografia.

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Trilhos e Afins [Rua não identificada] – Sem data – Fotógrafo não identificado

E que rua é esta? Até aqui não sabemos; mas talvez alguém que leia estas linhas possa vir a esclarecer. Observamos boas casas, os trilhos do bonde já instalados – mas a rua ainda sem pavimentação – e os postes que sustentam a fiação de luz e força. Quase todos na foto esperam o bonde que vem chegando, ao fundo. E aquele cidadão que leva, às costas, uma série de caixas empilhadas às costas? Um mascate — profissionais que iam de porta em porta, oferecendo produtos diversos —, talvez? E como sempre acontecia, nessas ocasiões, o fotógrafo era premiado com a memorável colaboração dos passantes, que não se importavam em participar/integrar a imagem que era então composta no visor da câmera.

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Detalhe da fotografia Trilhos e Afins [Rua não identificada] – Sem data – Fotógrafo não identificado

Vamos ao detalhe. O mascate, como dissemos, era um vendedor ambulante, às vezes chamado de bufarinheiro, comerciando de porta em porta. O retratado carrega quatro caixas e mais um embrulho, empilhados às costas; são raras as imagens desta forma de comércio no Rio antigo. E no primeiro plano temos, ainda, um precioso registro do vestir. O homem de paletó com um lenço no bolso parece posar para o fotógrafo, deixando à mostra por inteiro a sua calça riscada, presa ao suspensório. E a barra da calça está levantada, o que possibilita melhor visualização do sapato.

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Motorneiro – 27/10/1924 – Augusto Malta

A Light era exigente quanto à conduta no trabalho, no trato com os passageiros, e também quanto à apresentação de seus motorneiros e condutores (bonde), e motoristas e cobradores (ônibus). Eles deveriam sempre estar ‘impecáveis’. Quem pernoitava no “Hotel da Rua do Bispo”, como era conhecido o célebre Hotel dos Condutores e Motorneiros, tinha mordomia: roupa lavada e passada.

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Light: Recebedoria da Rua Marechal Floriano – 1925 – Fotógrafo não identificado

Que espetáculo esta fotografia! Faz-nos lembrar dos editoriais de moda. Mas é apenas uma fila junto a um balcão do edifício sede da Light, à rua Marechal Floriano. Ali, entre os quatro mais jovens, vemos dois uniformizados; um escoteiro e, provavelmente, um cadete do Colégio Militar. Curioso observar a riqueza e diversidade dos modos de vestir. Que título você daria para esta imagem?

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Die Drawing Bench [Light: Oficina] – 07/04/1924 – Augusto Malta

Memórias dos tamancos cariocas... quem diria! Este calçado, também chamado de “soco”, já foi uma verdadeira instituição, trazida pelos portugueses e depois pelos imigrantes italianos e alemães. Rústico, solado-plataforma de madeira (ou cortiça) cuja altura pode variar, com uma ou duas tiras de couro ou outro material para prender os pés. Também podem ser total ou parcialmente fechados – deixando os calcanhares de fora; muito baratos e eficazes para manter os pés bem afastados do chão e isolantes da unidade e da eletricidade. E mesmo depois do advento das botas e sandálias de borracha, ainda hoje são populares em algumas culturas; não mais por aqui. Na fotografia, um operário com seu par de tamancos junto a um equipamento de trefilagem ou trefilação, produzindo arame.

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Detalhe da fotografia Die Drawing Bench [Light: Oficina] – 07/04/1924 – Augusto Malta

Havia diversos modelos de tamancos, alguns melhor confeccionados e adaptados à forma dos pés e outros, nem tanto... às vezes produzidos mesmo por quem os calçava. E este talvez seja o caso dos tamancos no detalhe a seguir; bem rústicos.

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Botafogo: Rede subterrânea – 14; 15; 16/01/1966 – Gerson Rodrigues Géa

Aqui, um típico tamanco industrial, daqueles que eram comercializados em larga escala nas feiras e mercados do Rio de Janeiro, com a cinta vermelha ou azul e o acabamento das bordas na cor branca. Até mesmo no ambiente doméstico, os porteiros, trabalhadoras domésticas e lavadeiras de roupa costumavam usar esse calçado durante suas atividades, especialmente quando o piso ficava molhado.

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Wreck – Leopoldina Railway; Rua Dona Anna Nery – 07/07/1910 – Fotógrafo não identificado

Aqui, a fotografia de um infeliz acidente na rua Ana Nery, envolvendo uma locomotiva da E. F. Leopoldina e um bonde. Nessas ocorrências, o fotógrafo era sempre convocado. Ao chegar, encontrava os curiosos – e não apenas quanto ao acidente, mas também curiosos quanto às atividades do fotógrafo, seu equipamento e seu ritual. Muitas daquelas pessoas talvez nunca, ou raras vezes, tivessem adentrado um estúdio para fazer um retrato. É possível que ninguém, ali, tivesse mesmo ideia de como aquele fenômeno acontecia. Assim, era natural que aqueles curiosos não se importavam de participar da cena e até mesmo posar, com elegância. O local de um acidente também podia constituir-se em oportunidade para se dar a ver, enfim.

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Detalhe da fotografia Wreck – Leopoldina Railway; Rua Dona Anna Nery – 07/07/1910 – Fotógrafo não identificado

No detalhe, com direito a uma pose elegante em meio ao caos, destaque para o tamanco de couro – este, um modelo mais elaborado, talvez próximo do que foi bem comum no sul do Brasil, trazido pelos imigrantes italianos e alemães.

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Detalhe da fotografia Wreck – Leopoldina Railway; Rua Dona Anna Nery – 07/07/1910 – Fotógrafo não identificado

Em outro detalhe da mesma fotografia, observa-se que muitos dos presentes vestiam chapéus. E os modelos eram diversificados. Há o chapéu de aba reta e fita (boater), o panamá, o fedora (de feltro) vestido pelo homem ao centro de paletó, colete e gravata longa. Há outros modelos de chapéu de palha, boinas etc.

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Garagem de Bonde – Sem data – Fotógrafo não identificado

Agora estamos diante de uma garagem de bondes. Junto à fachada do edifício, há funcionários da Light, além de outro encostado à grade, logo atrás de um grupo de meninos que olham curiosos para o fotógrafo – que termina por fazer um registro que excede, em muito, o seu objetivo inicial. O cartaz preso ao poste anuncia: “A Cia. F. C. do Jardim Botânico dá ao longo de suas linhas aterro cobrando só o transporte 5$000 m3. Mínimo 100 m3.” Era mais um dos serviços prestados pela companhia, em uma região da cidade que estava, literalmente, em construção. Na parte superior da fachada, o anúncio pintado propaga: “Leme Divertimentos. Gratuitos. Balanços etc. etc. Vide anúncios. Bonds em quantidade.” O bairro do Leme começava a ser habitado e havia grande interesse em promovê-lo como estância de lazer para cariocas e turistas.

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Detalhe da fotografia Garagem de Bonde – Sem data – Fotógrafo não identificado

Quanta riqueza nos distintos modos de vestir da meninada que destacamos neste detalhe... da boina colorida (?) do menino descalço à esquerda, com as calças na altura da batata da perna (um traje de marinheiro?) até o ‘mini-adulto’ à direita, com seu chapéu boater (palheta), de paletó e gravatinha borboleta, levando o que parecem ser papéis enrolados à mão, os sapatos sujos... haja seriedade! Entre os extremos, uma dupla igualmente especial. O da esquerda protege a vista do sol, sua calça comprida está presa aos suspensórios, a camisa tem as mangas compridas enroladas e ele carrega volumosa sacola. Ao seu lado, outro menino descalço veste uma bermuda franzida no joelho e um paletó que tem um desenho bastante original.

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Maquinário para curvar trilhos – Sem data – Fotógrafo não identificado

Na imagem e seu detalhe, vale observar as vestimentas dos operários que operam pesado equipamento para curvar trilhos. Imagem rara. Dois homens, calças e camisas diferentes. O da esquerda, de camiseta com um lenço amarrado ao pescoço, veste uma calça que está evidentemente presa à cintura; a do outro, de camisa pregueada, é segura pelos suspensórios. Soluções distintas para a vestimenta funcional, quanta riqueza. E os elegantes chapéus.

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Inauguração do Serviço de energia elétrica nas Usinas da Rua Frei Caneca – 30/07/1907 – Augusto Malta

Por ocasião da cerimônia de inauguração da estação (temporária) de distribuição de energia elétrica da Light em 1907, à rua Frei Caneca, a cerimônia foi especial. O edifício havia sido feito para uma casa de força provisória – como se vê por trás do animado grupo que posa para a fotografia. Vultuosas instalações estavam sendo construídas por ali e aquela excedia, em muito, as necessidades do canteiro de obras e passou a ser usada para atender ao Rio, no serviço de bondes e na iluminação pública e residencial. A usina hidrelétrica de Fontes, instalada no ribeirão das Lajes no município de Piraí/RJ, já estava concluída e foi oficialmente inaugurada em abril de 1908. O mês era julho, inverno; observem os casacos; mas não estávamos em Paris e sim na rua Frei Caneca, centro do Rio. Um “detalhe”: apenas homens brancos estavam presentes! Em outras palavras: enquanto temos homens negros e brancos operando máquinas fazendo o trabalho braçal, quando observamos uma foto de pessoas em posição de tomada de decisão, o embranquecimento é total.

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Detalhe da fotografia Inauguração do Serviço de energia elétrica nas Usinas da Rua Frei Caneca – 30/07/1907 – Augusto Malta

E neste dois alongados detalhes, que espetáculo esta profusão de chapéus coco (alguns dissidentes com chapéus fedora, de feltro, ao meio) e de sapatos Oxford de biqueira fina – com cadarços para amarrar e que em geral tinham saltos mais altos. Eram novidade naqueles tempos em que os antigos artesãos do sapato começavam a ser substituídos por ‘designers sapateiros’, se podemos dizer assim...

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Sede do Estado Maior do Exército – Sem data – Fotógrafo não identificado

E estes bondes? Primeira e segunda classe rumo à “Pça. 15 Nov.” A foto, cujo título confere, erroneamente, o protagonismo ao edifício da Sede do Estado Maior do Exército, teve o objetivo de mostrar o momento em que o motorneiro lançava mão de uma haste para acionar, manualmente, o 'aparelho de mudança de via' — um desvio instalado nos trilhos, que permitia ao trem mudar de uma linha para a outra. Havia 'agulhas' nos dois trilhos, cuja função era mover as peças de transferência dos trilhos, acionadas manualmente através de uma trava. Do primeiro bonde, elegemos dois detalhes, que merecem atenção e breve comentário.

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Detalhe da fotografia Sede do Estado Maior do Exército – Sem data – Fotógrafo não identificado

No primeiro detalhe, a constatação de que mesmo nos estribos do bonde, a elegância tinha o seu lugar. Uma elegância que se voltava para a Europa, mesmo em uma cidade quente como o Rio. E, a despeito do que a sociedade branca e racista do início do século XX queria e esperava, alguns cidadãos negros ‘jogando o jogo’ das aparências, vestidos de acordo com o que se entendia como belo e refinado.

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Detalhe da fotografia Sede do Estado Maior do Exército – Sem data – Fotógrafo não identificado

E agora, atenção a esses quatro cidadãos registrados pela câmera (da esquerda para a direita). Todos de chapéu. O de trás, de braços cruzados, fitando o fotógrafo; aquele sentado à sua frente segue na leitura do jornal, ignorando a situação... ou melhor, assentindo a pose. Já o cidadão à sua frente, um homem preto altivo e elegante, de paletó e gravata borboleta, chapéu de aba reta e fita, tipo boater (palheta), agarrado ao seu guarda-chuva, pernas cruzadas, encara o fotógrafo com firmeza. Que retrato! E o quarto e último, o branco bigodudo da frente, cigarro preso aos lábios, mãos cruzadas expressando certo desconforto ou ansiedade, também encara o fotógrafo. Ele veste colete sob o paletó, gravata comprida e um chapéu fedora (de feltro). Levou vantagem por estar em situação onde recebe mais luz; e os ajustes da câmera (abertura do diafragma e velocidade do obturador) eram ideais para a sua condição. Enquanto que o de trás, negro, na penumbra, ficou em desvantagem. A propósito, vale comentar, isto sempre foi um problema para a fotografia, quando havia pretos e brancos na imagem. A fotometragem tendia a privilegiar quem tinha pele clara; os pretos ficavam obscurecidos por demais...

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Detalhe da fotografia Sede do Estado Maior do Exército – Sem data – Fotógrafo não identificado

...mas nada que o tratamento digital não possa resolver! Ei-lo, após o restauro digital do negativo e um ajuste de tons, com todo o seu brilho e esplendor.

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