Revolta dos marinheiros no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro
25 de março de 1964
Danilo Araujo Marques
Naquela quarta-feira, 25 de março de 1964, cerca de 2 mil marinheiros se encontraram no Palácio do Aço, sede do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, para celebrar os 2 anos da Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB). Prestigiada entre os marujos, a Associação não era bem-vista pelo alto comando das Forças Armadas. Tudo porque, na prática, ela funcionava como uma espécie de sindicato dos marinheiros – algo expressamente proibido pelas Forças Armadas. Sem contar o apoio explícito deles às Reformas de Base do presidente João Goulart.
Foi por isso que, 4 dias antes, o ministro da Marinha, almirante Sílvio Mota, havia dado ordens explícitas para que o evento fosse suspenso. Em vão. As comemorações não só aconteceram, mas serviram de palanque para reivindicações como melhoria da comida servida nos navios e alterações no código disciplinar. Tudo isso na presença de convidados como o deputado federal Leonel Brizola (PTB-RJ) – aliado de primeira hora de Jango e um dos porta-vozes das Reformas de Base – e João Cândido, o “Almirante Negro”, líder da Revolta da Chibata de 1910 – símbolo de resistência para a marujada e da mais desabrida insubordinação para o alto comando.
O discurso de José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo – que, anos depois, se tornaria o informante mais conhecido da ditadura militar –, deu bem o tom político das manifestações: “quem tenta subverter a ordem não são os marinheiros, os soldados, os fuzileiros, os sargentos e os oficiais nacionalistas, como também não são os operários, os camponeses e os estudantes. A verdade deve ser dita: quem, neste país, tenta subverter a ordem são os aliados das forças ocultas, que levaram um presidente ao suicídio, outro à renúncia, e tentaram impedir a posse de Jango e agora impedem a realização das Reformas de Base”.
Diante de declarado ato de desobediência, o ministro da Marinha ordenou a prisão imediata dos organizadores. Em reação, os marinheiros cruzaram os braços e se recusaram a abandonar a sede do Sindicato dos Metalúrgicos. A crise estava instalada. Envolvia apoiadores do governo e a cúpula das Forças Armadas – e estava longe de acabar.
Cabo Anselmo discursa ao microfone. À sua direita, Hércules Corrêa, do CGT. Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional.
Marinheiros se dirigem aos fuzileiros navais do lado de fora do Sindicato. 27 de março de 1964. Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional
Adesão de fuzileiros navais à revolta dos marinheiros. Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional.
A saída dos marinheiros. 27 de março de 1964. Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional

